Associação Médica Brasileira divulgou nesta sexta-feira (9/4) protocolos que podem ser usados pelos hospitais na hora de selecionar pacientes para as UTIs, que estão lotadas
O colapso no sistema de saúde em razão da pandemia do covid-19 acarretou na escassez de vagas nas unidades de terapia intensiva (UTIs) em vários estados do Brasil. Com o número de óbitos pela doença ultrapassando a marca de 4 mil, entidades médicas fazem recomendações sobre os protocolos de triagem com pacientes em UTI. O anúncio foi feito nesta sexta-feira (9/4) pela Associação Médica Brasileira (AMB).
Segundo balanço do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), no fim de março, 6,3 mil pessoas estavam na fila de espera por uma vaga nas UTIs no país. O esgotamento do sistema vem obrigando os gestores da saúde a decidirem sobre o acesso aos poucos leitos disponíveis. Especialistas e Ministério Público cobram transparência em relação aos critérios adotados em meio ao caos sanitário.
Presidente da AMB, César Fernandes diz que o principal objetivo do protocolo é “reduzir o maior número de mortes possível”. O documento enfatiza que foi feita uma sistematização para estabelecer critérios éticos, técnicos e transparentes para os profissionais poderem decidir como usar os recursos em um cenário em que faltam leitos de emergência.
O presidente da AMB destacou que as recomendações do protocolo não são de adoção obrigatória, mas pretendem ajudar e salvaguardar os médicos que precisarem tomar essa decisão. “Vai haver um acolhimento quase universal dos serviços de terapia intensiva”, disse Fernandes.
A fisioterapeuta intensivista Natally Ramos explica que as novas regulações podem ajudar os profissionais da área da saúde de uma melhor forma a direcionar os casos de cada paciente, sendo covid ou não, e de acordo com o nível de gravidade. “Dando a devida assistência em cada estratégia e planos de ações, (o protocolo) se torna fundamental nesse momento, em que estamos com super lotações de leitos e, até mesmo, com falta de medicações fundamentais como sedativos”.
Como a fisioterapeuta trabalha em um setor de UTI Pediátrica, não há tantos casos da covid, como na unidade de terapia intensiva para direcionada a adultos. “Mas nas crianças que já positivaram, seguimos uma triagem e protocolos para segurança de ambas partes (paciente e profissional), pensando no melhor tratamento desde o primeiro dia de internação, tendo possibilidades para uma boa evolução”, afirma.
Critérios dos protocolos
Uma das responsáveis por elaborar os protocolos, a médica intensivista Lara Kretzer explica que entre os critérios para decidir quais pacientes vão receber o tratamento intensivo está a possibilidade de recuperação. Ou seja, aquele paciente que tem mais chances de sobreviver à doença e aos métodos de tratamento terá prioridade. É levada em consideração, também, a gravidade dos quadros de saúde e doenças em estágio avançado que possam reduzir as possibilidades de sobrevivência. A idade não faz parte dos critérios de decisão.
Os pacientes que não tiverem prioridade em casos nos quais há falta de recursos, segundo os protocolos, devem continuar a receber os tratamentos disponíveis, inclusive aqueles que tragam conforto caso a morte seja inevitável. As decisões devem, de acordo com as recomendações, serem anotadas nos prontuários de forma transparente. O documento foi elaborado não só a partir das bases científicas sobre o tema, como também apresenta o embasamento legal disponível sobre o assunto.
As recomendações vêm em um período visto como crítico pelas entidades. “Atingimos um patamar em que o atendimento à população não é adequado, digno e não chega a todos, como a gente vê nessas filas”, lamenta a presidente da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, Suzana Lobo.