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Encontrados sinais de 11 mil anos de ocupação humana em SP

Laudo americano aponta que um sítio de São Manuel, na região central de São Paulo, era habitado por um povo pré-colombiano há 11.000 anos

SP - ESCAVA«’ES/ARQUEOLOGIA/PAULISTAS - GERAL - ATEN«√O, SENHORES EDITORES: MAT…RIA COM EMBARGO. PUBLICA«√O LIBERADA A PARTIR DE DOMINGO,   DIA 05 DE JUNHO DE 2016. Material coletado no SÌtio ArqueolÛgico Caetetuba, de 55 mil   metros quadrados, em S„o Manuel, na regi„o central do Estado, mostra que o local era   habitado por um povo prÈ-colombiano h· 11 mil anos.   02/06/2016 - Foto: S…RGIO CASTRO/ESTAD√O CONTE⁄DO
Material coletado no Sítio Arqueológico Caetetuba, em São Manuel, região central do Estado de São Paulo, mostra que o local era habitado por um povo pré-colombiano há 11 mil anos (Sérgio Castro/Estadão Conteúdo)

Uma descoberta arqueológica no interior paulista deve enriquecer o debate científico sobre a ocupação da América pelos primeiros humanos. Em laudo elaborado recentemente por um laboratório americano, constatou-se que um sítio de São Manuel, na região central do Estado de São Paulo, era habitado por um povo pré-colombiano há 11.000 anos. A datação, certificada pelo laboratório Beta Analytic, coloca o Caetetuba, de 55.000 metros quadrados, entre os sítios arqueológicos com sinais mais antigos de presença humana do país. Foram encontrados ali 3.000 itens, todos de pedra lascada.

“É possível perceber todo o processo de produção”, afirma o arqueólogo Lucas Souza Troncoso, pesquisador do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP) e um dos 15 profissionais responsáveis pelo achado, todos funcionários da empresa Zanettini Arqueologia. “Pelo formato, resultado do manuseio, é possível inferir quais pedras eram usadas para fazer as ferramentas e quais eram os resultados finais. Identificamos sete projéteis, usados para caça”, completou ele.

Feitas ao longo de três meses no início deste ano, as escavações ocorreram em conformidade com a legislação ambiental, para que a empresa proprietária da fazenda, a Usina Açucareira São Manoel, pudesse ampliar sua área de cultivo. No total, foram mapeados catorze sítios arqueológicos, entre eles o Caetetuba – onze escavados e três, por exigência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), preservados. “Estamos diante de um exemplo de resultado científico dessa lei, em convivência entre o campo econômico e a preservação do patrimônio”, diz o arqueólogo Paulo Zanettini, responsável pelo estudo.

No total, mais de 10.000 itens foram coletados pelos pesquisadores. Agora passam por análise e catalogação, no laboratório da empresa Zanettini, no Butantã, zona oeste da cidade de São Paulo. Até o fim do ano, os relatórios do trabalho devem ser entregues ao Iphan e o material, armazenado no Museu de Arqueologia e Paleontologia de Araraquara, no interior.

Paulo Zanettini calcula que muito deve ter se perdido ou ainda seja desconhecido nos solos do interior paulista. “Cerca de 50% dos municípios de São Paulo jamais tiveram uma análise arqueológica”, diz.

Além do Caetetuba, dois outros sítios chamam a atenção pela raridade do material. No Serrito I, com ocupação humana estimada entre 500 e 2.000 anos atrás, foi encontrada uma variada coleção de cerâmicas com acabamentos esteticamente refinados – seja com uso de tintas ou com uso de unhas para criar desenhos em baixo relevo.

Já o Serrito II, um dos eleitos pelo Iphan para seguir preservado, sem escavação, tem um paredão de pedra aparente em que há pinturas rupestres – em algumas, é possível identificar figuras que se assemelham ao Sol.

Relevância – Geneticista especializada em populações americanas antigas, a professora Maria Cátira Bortolini, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), coloca a descoberta no mesmo nível das mais importantes de toda a América. “Datações antigas costumam ser muito controversas, porque muitas vezes não fica clara a ligação do material analisado com a ocupação humana”, explica. “Por consenso da comunidade científica, aceitam-se evidências como de Lagoa Santa, em Minas, com cerca de 12.000 anos, e Monte Verde, no Chile, com 14.000 anos. Qualquer fato extraordinário precisa de evidências extraordinárias”, disse a Maria Cátria.

Para a arqueóloga Niède Guidon, integrante da Missão Arqueológica Franco-Brasileira e presidente da Fundação Museu do Homem Americano, a escassez de resultados semelhantes no interior paulista é consequência de poucas pesquisas feitas – e não de pouca presença de povos na antiguidade. “E pela própria ocupação contemporânea, muitos sítios devem ter sido destruídos antes de ser estudados”, disse Niède.

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