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Empreiteiras pagaram propina a dirigentes da Eletronuclear, diz PF

A Polícia Federal e o Ministério Público Federal (MPF) encontraram indícios de pagamento de propina para dirigentes da Eletronuclear. Os pagamentos foram feitos pela Andrade Gutierrez, Odebrecht, Camargo Corrêa e outras empreiteiras que têm contratos com a subsidiária da Eletrobras, confirmaram as autoridades nesta terça-feira (28), em entrevista coletiva em Curitiba.

Segundo o MPF, o consórcio de empresas Angramon, que atua em obras de Angra 3, além da Engevix, que também têm contratos para a obra, pagaram vantagens indevidas ao presidente licenciado da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro, em contratos de 2009, por meio de empresas intermediárias. O procurador federal Athayde Ribeiro Costa disse que o dirigente recebeu R$ 4,5 milhões em propina.

Othon da Silva se afastou do cargo em abril deste ano, após as primeiras denúncias de recebimento de vantagens indevidas em troca de contratos com a estatal. Na ocasião, a empresa negou irregularidades e instaurou investigações internas.

O procurador federal disse que a corrupção não está restrita à Petrobras, mas se espalha por outros órgãos da administração pública.

 O presidente licenciado da Eletronuclear e o executivo da Andrade Gutierrez Flávio David Barra foram presos no Rio de Janeiro na 16ª fase da Operação Lava Jato. Eles serão levados para a Superintendência da PF em Curitiba. As empresas ainda não se pronunciaram sobre as prisões, que são temporárias – têm prazo de cinco dias e vencem no sábado (1º).

A PF cumpre ainda 23 mandados de busca e apreensão e cinco de condução coercitiva, quando a pessoa é obrigada a prestar depoimento. O procurador Athayde Ribeiro Costa disse que os 5 mandados de condução coercitiva são para executivos de empreiteiras envolvidos no esquema.

A atual fase da operação, batizada de “Radioatividade”, foi deflagrada nesta madrugada em Brasília, Rio de Janeiro, Niterói (RJ), São Paulo e Barueri (SP).

Os objetos de apuração desta fase da Lava Jato são a formação de cartel, o prévio ajustamento de licitações nas obras de Angra 3 e o pagamento indevido de vantagens financeiras a empregados da Eletronuclear. A empresa foi criada em 1997 para operar e construir usinas termonucleares e responde hoje pela geração de cerca de 3% da energia elétrica consumida no país.

Angra 3 será a terceira usina nuclear do país e está em construção na praia de Itaorna, em Angra dos Reis (RJ). Ela terá potência de 1.405 megawatts (MW) e gerará energia suficiente para abastecer Brasília e Belo Horizonte por um ano.

Foto de divulgação mostra a usina Angra 3 durante as obras em março de 2012 (Foto: Divulgação/Eletronuclear)
Obras da usina Angra 3  em março de 2012 (Foto: Divulgação/Eletronuclear)

Delações
O procurador federal Athayde Ribeiro Costa disse que a investigação confirmou as informações dadas pelo delator Dalton Avancini, ex-presidente da Camargo Corrêa.

Avancini deixou a prisão em 30 de março para cumprir prisão domiciliar, após firmar acordo de delação premiada com a Justiça, homologado pelo juiz federal Sérgio Moro, responsável pelas investigações da Lava Jato na primeira instância.

Segundo Avancini, a Camargo Corrêa foi informada em agosto de 2014 de que havia “compromissos” de pagamento de propina equivalente a 1% dos contratos das obras da usina ao PMDB e aos diretores da Eletronuclear. Somados, os contratos de Angra 3 chegam a R$ 3 bilhões, de acordo com o executivo. À época, o PMDB negou as acusações de recebimento de propina.

A Eletronuclear e o então presidente da empresa, Othon Luiz Pinheiro, disseram em abril que as acusações eram infundadas, que a empresa age sempre em total transparência e que o Tribunal de Contas da União aprovou a preparação das propostas de preços em Angra 3. Uma comissão interna de fiscalização apura as denúncias e uma empresa de investigações foi contratada “para garantir a transparência e independência dos trabalhos”, segundo nota da estatal.

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