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Em três meses, 280 lojas fecharam no DF

Nesse ritmo, perspectiva é cortar 13 mil vagas de emprego em 2016

 

O ano de 2015 não foi nada fácil para o comércio brasiliense,  e a projeção para este ano não é nada animadora.  Entre janeiro e dezembro do ano passado,   3.007 lojas  fecharam as portas, de acordo com levantamento do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindvarejista- DF). Caso não ocorra um verdadeiro milagre na economia, a tendência é o fechamento de mais de dois mil estabelecimentos. Somente no primeiro trimestre deste ano, mais 280 lojas encerraram as atividades. Um número que, se multiplicado por quatro, resultaria em cerca de 13 mil pessoas desempregadas até o fim do ano.

Fatores como preço do aluguel, elevação de tributos, falta de estacionamento e de segurança e inflação influenciaram no quantitativo de lojas fechadas no DF. Segundo os dados do Sindvarejista, apenas na Avenida W3 Sul,  há   147 lojas fechadas. Em todo o DF, no início do ano passado, eram 770 salas comerciais fechadas para aluguel. Hoje, o número saltou para 1,5 mil.

“O comércio é um dos setores que mais empregam, e a crise contribuiu para o aumento do desemprego. Um estudo recente aponta que há no DF mais de 700 mil endividados. Com isso, o dinheiro está parado. Tudo depende de o governo tocar a economia do País para frente”, avaliou o presidente Sindvarejista, Edson de Castro.

Segundo ele, a economia do DF atualmente gira  apenas em torno do funcionalismo público, pois os outros setores estão completamente parados. “Hoje, ninguém sabe  o que é mais interessante para investir   no DF. As pessoas estão economizando ao máximo, tendo cautela, o que obriga alguns comércios a oferecer  melhores condições. Antes, as lojas de confecções não dividiam em mais de três vezes.  Agora, parcelam em até seis. Além disso, a comida está muito cara e a população  deixa de gastar com algo menos necessário por causa do pouco dinheiro”, avaliou.

Dificuldade visível

Nas comerciais do Sudoeste, é possível encontrar com facilidade lojas fechadas ou disponíveis para aluguel. A loja Hidrogênio, por exemplo, mudou de lugar para reduzir os gastos com o aluguel. Antes, o comércio ficava de frente para a avenida principal, na Quadra 301. Agora, está menos visível, virado para  os prédios residenciais.

“Essa mudança resultou em 70% de economia. Tínhamos cinco funcionárias, agora são apenas duas. Tivemos que nos readequar, porque as vendas caíram muito devido à crise”, informou  a   gerente Marinalva Dantas.

Lojistas tentam se adaptar à crise

Ao lado da tapiocaria Maria Bonita, na comercial da Quadra 104 do Sudoeste, uma loja ficou vaga no fim do ano passado e está disponível para alugar. Nelci Soares, proprietária da tapiocaria, chegou a pensar em locar o espaço para aumentar seu negócio, mas, com a crise e a queda nas vendas, desistiu: “Não tem como alugar mais uma loja na atual conjuntura econômica. Dos 13 anos em que funcionamos, esse está sendo o mais difícil. Desde janeiro, a situação está crítica”.

Segundo Nelci, o preço dos produtos tem subido a cada vez que vai ao supermercado. Por isso, muitas vezes, é inevitável repassar os aumentos aos fregueses. “Se a situação está difícil para mim, também está para o cliente. Estamos suando para manter o negócio, pois as pessoas   evitam gastar”, disse. Segundo ela, sua equipe sempre foi pequena e por isso, não houve corte de funcionários.

W3 Sul

Repleta de lojas de diversos segmentos, há alguns anos, a Avenida W3 Sul era uma das mais movimentadas. Mas, com o passar dos anos, algumas foram fechando as portas. E, nos últimos meses, a situação tem piorado. Hoje, os estabelecimentos fechados somam 147. Quem passa no local percebe a grande quantidade de lojas com placas de aluga-se ou vende-se.

Carlos Barata, proprietário do Sebo Cultural Fortaleza, na 511 Sul, é  um dos comerciantes mais antigos da região. O estabelecimento existe desde a década de 1960, quando o pai de Carlos tocava o negócio.

“As lojas fecharam aos poucos. Antes, mesmo pagando aluguel, era possível lucrar bastante. Hoje, quase não existe lucro. Quando meu pai abriu, no início da manhã,   já estava com o bolso cheio de dinheiro. Hoje isso não acontece mais. Sem contar que o movimento era enorme e agora é um local vazio”, destacou. Quando seu pai tocava o negócio, o sebo fechava após as 22h. Hoje, Carlos fecha  às 18h30.

Ponto de vista

Para Álvaro Silveira Júnior, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas do Distrito Federal (CDL-DF), a crise já não é mais novidade. Por isso, ele acredita que quem conseguiu se manter no ano passado sem fechar as portas deve continuar funcionando neste ano.

“As pessoas se adequam às situações. Quem não fechou ainda deve continuar com seu estabelecimento aberto. E essa é a hora de treinar o pessoal, avaliar os custos, produtos e fazer mais coisas para atrair os clientes. Ou seja, é a hora de ter mais criatividade, pois os clientes estão gastando menos, porém, estão mais exigentes”, ressaltou.

Queda generalizada nas vendas

Desde agosto, Ivanir Alves, de 33 anos, começou a vender açaí na 504 Sul. Porém, de dezembro para cá, uma das lojas da quadra fechou e ela teve queda em suas vendas. “A quantidade de açaí que eu vendia caiu pela metade. Além disso, com essa crise, as pessoas evitam comprar lanches ou gastar na rua”, afirmou.

O cenário de recessão fez 95,4 mil lojas encerrarem as atividades no País em 2015, segundo levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Só no Distrito Federal, o saldo entre estabelecimentos abertos e fechados no ano passado foi negativo em 2.203 lojas.

Foi a primeira vez que isso aconteceu em três anos. Em 2013 e 2014, o saldo foi positivo, sendo de 629 e 714 estabelecimentos, respectivamente. De acordo com a confederação, o fechamento das lojas está diretamente associado à queda no volume das vendas.

Apreensão

O presidente da Fecomércio-DF, Adelmir Santana, explica que o cenário é de muita apreensão, pois todo mundo está sem saber o que esperar. Além disso, o atual quadro político tem piorado a economia do País. Segundo ele, a expectativa para 2016 é ruim e não existe nada que possa animar os empresários, pois a confiança precisa ser restabelecida pelos clientes e comerciantes.

“Os preços sobem, o desemprego aumenta, e tem a alta da inflação. Enfim, é uma série de fatores que prejudica o comércio e faz com que as expectativas sejam negativas. Foram muitas lojas fechadas por causa da crise, e alguns comerciantes estão lutando para continuar no mercado”, frisou o presidente da Fecomércio-DF.

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