O presidente Mauricio Macri, o peronista Alberto Fernández e outros quatro candidatos participaram do primeiro debate presencial
A elevada dívida argentina, a corrupção e a crise na Venezuela concentraram os ataques entre o presidente liberal Mauricio Macri e o peronista Alberto Fernández, durante o primeiro debate no domingo entre os seis candidatos à presidência.
“Quando o mandato terminar, ele terá deixado 5 milhões de novos pobres”, atacou o candidato de centro-esquerda Fernández, favorito para vencer as eleições de 27 de outubro.
“Um lugar onde o governo Macri fracassou categoricamente foi na economia”, disse ele em tom ofensivo.
Fernández, cuja vice é a ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015), obteve 17 pontos de vantagem sobre Macri nas primárias em 11 de agosto e, segundo as pesquisas, expandiu a diferença desde então.
“Sei que no último ano o ônus foi muito grande, especialmente para a classe média. Estamos no ponto de partida para começar a crescer”, defendeu-se Macri, que aspira a um segundo mandato após quatro anos de governo.
O presidente encerra seu mandato com uma economia endividada e em recessão, com inflação anual de 30% em agosto e pobreza de 35,4%, o nível mais alto desde o colapso econômico de 2001.
Fernández não deu detalhes sobre qual será seu plano econômico. Ao mesmo tempo, muitos argentinos temem que ele seja um “fantoche” de Cristina Kirchner.
Macri implementou uma política de ajuste fiscal que incluiu demissões, cortes de subsídios, aumento de taxas de serviço público e impostos.
O resultado do ajuste tem sido um aumento do desemprego (10,6%) e da pobreza, com uma inflação anual estimada de 55% para 2019 e uma queda na economia de 2,5% para este ano.
O peso depreciou 68% desde janeiro de 2018 e as taxas de juros superaram 80%, das mais altas do mundo.
“Esses debates são conquistados mais pela atitude do que pelo conteúdo”, disse a analista política Analía del Franco.
Fernández “se destacou mais por ter uma atitude ativa e surpreendeu por ter partido para a ofensiva enquanto Macri acabou nervoso e com raiva”, afirmou.
Dívida e corrupção
Desde que Macri tomou posse, a dívida pública cresceu, incluindo com um empréstimo de 57 bilhões de dólares do Fundo Monetário Internacional (FMI) que o governo tomou em 2018 e que agora busca refinanciar.
A dívida chega a 383 bilhões de dólares, quase o total da receita bruta nacional, segundo consultorias.
“Dos 39 bilhões de dólares dados pelo Fundo (FMI), 30 bilhões escaparam, os amigos do presidente os levaram e um dia ele terá que explicar à Argentina para onde foram esses dólares que não estão em pontes ou em casas”, afirmou Fernández no debate realizado na Universidade Nacional del Litoral, em Santa Fe. O segundo será no próximo domingo, na capital argentina.
“Fico feliz e surpreso que a Frente de Todos fale de corrupção. E também que Alberto Fernández diga que eu destruí a economia quando, até muito recentemente, dizia que a presidente Kirchner a destruiu”, respondeu Macri.
“Reconhecemos o presidente Juan Guaidó. Ser neutro é sinônimo de apoio à ditadura de (Nicolás) Maduro”, disse Macri.
Guaidó, presidente do Parlamento venezuelano, proclamou-se presidente interino em janeiro e é reconhecido como tal por mais de 50 países que consideram a reeleição de Maduro fraudulenta.
Fernández respondeu: “A Venezuela tem problemas. Mas, ao contrário do presidente, quero que os venezuelanos resolvam o problema. Espero que nenhum soldado argentino acabe nas terras venezuelanas”.
Os demais candidatos são Nicolás Del Caño, da Frente de Esquerda; José Luis Espert, da frente direita Unite; Juan José Gómez Centurión, do direitista Nos, e Roberto Lavagna, do centrista Consenso Federal.
Nas primárias, Fernández obteve 47,78% dos votos e Macri 31,79%. Se em 27 de outubro Fernández exceder 45%, será consagrado o futuro presidente.