Dos eventos politizados aos festivos, das promoções às rodas de debates, conheça atividades marcadas para a semana em que a mulher entra em evidência
No mercado editorial, na música, nos palcos ou com câmera em punho, a arte não deveria ter preconceito de gênero. Mas a cena cultural segue restritiva às mulheres, perpetuando a desigualdade, embora elas sejam maioria na sociedade brasileira (cerca de 52% da população, segundo o IBGE). Na data em que se celebra o Dia Internacional da Mulher, o Diversão&Arte elenca atividades em Brasília que evidenciam o empoderamento do sexo feminino. Apesar das conquistas, notícias diárias, como a de que o Distrito Federal registrou 19 feminicídios em 2016, trazem o questionamento: há o que comemorar?
“Temos, sim, o que comemorar. Ainda que percamos diariamente muitas de nós, precisamos celebrar nossas lutas diárias, e falar sobre isso. Vamos trazer poesia, mas também relembrar o sofrimento de muitas mulheres”, conta Natália Cristina, organizadora do Sarau BlasFêmea, no Espaço Cultural Ubuntu, no Recanto das Emas. Por lá, haverá debates com artistas expoentes da cidade. Essa é apenas uma das atividades que querem descortinar o machismo na arte.
O caminho é tortuoso. No âmbito da leitura, basta uma rápida olhada nas prateleiras das livrarias, por exemplo, para notar a discrepância entre obras assinadas por homens e mulheres. A situação se agrava para autoras que decidiram enveredar pela cena independente. Na onda de eventos como o Leia Mulheres (além de clube literário, também uma campanha virtual que roda o mundo a fim de valorizar o trabalho intelectual feminino), o SESC da 504 Sul será palco do Literatura por Mulheres, com quatro escritoras do Distrito Federal.
“Muitos não leem mulheres puramente por machismo. Elas escrevem tão bem quanto homens. No fundo, todos somos humanos, iguais. Queremos mostrar que a mulher é capaz e tem toda propriedade de escrever um bom livro e narrar uma boa história”, conta Paulo Souza, escritor, blogueiro e um dos organizadores.
“Como homem, costumo dizer que é um trabalho de empatia. Tenho um blog de literatura, o Ponto para ler, sou autor independente, e sei as dificuldades de promover minha criação. Minhas amigas que também escrevem têm o triplo de problemas apenas por serem mulheres”, afirma.
Paralisação
Ele concorda que, mais do que festas e pompa em torno do sexo feminino, o Dia da Mulher permite que haja iniciativas de conscientização. Não à toa, está marcada para hoje uma greve geral internacional com mulheres de diferentes segmentos, mediadas por organizações feministas, sociais e políticas.
Conscientização é, também, a razão para a realização da roda de debates Empoderamento & atitude — Seu lugar é onde você quiser, no SIA. O enfoque, nesse caso, é lançar luz sobre o mercado de trabalho na América Latina. Mesmo que tenha uma trajetória profissional semelhante e formação idem a de um homem, mulheres recebem cerca de 20% menos na mesma função, segundo pesquisa do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Jaqueline Azevedo, empresária e uma das organizadoras da roda de debates quer passar uma mensagem otimista. “Traremos figuras bem-sucedidas, que ocupam cargos de liderança e que têm salários equiparados sem deixar nada a desejar. Estamos mostrando que não podemos nos limitar ao que os outros dizem ou ao que a sociedade prega. O foco é a mulher como empreendedora de si, de saber o lugar que quer ocupar. Se está feliz cuidando dos filhos, é uma decisão dela, mas se quer ocupar um alto cargo, também pode chegar lá”, defende Jaqueline.
Agenda
Empoderamento & atitude – Seu lugar é onde você quiser
A roda de debates tem como foco a discussão sobre a mulher no mercado de trabalho. No palco, as dificuldades e vitórias de Renata Sánchez (eleita publicitária do ano pelo Prêmio Colunistas de 2016), Lia Maria (ativista política na ONG AME — Ação de Mulheres pela Equidade) e Karina Galvão (vocalista da banda candanga cover Baby meu bem e os Brotos do Jacaré).
Hoje, às 19h, na Escola de Comunicação Katavento (SIA Tc. 17, Rua 17, Ed. Galpão, Lt. 1400).
Entrada: R$ 60
Sarau BlasFêmea
Com nome do terceiro livro da poeta e ativista Marina Mara, que fará sessão de autógrafos de lançamento da obra, o evento terá venda de livros e CDs das artistas convidadas. No total, 12 mulheres marcantes da cena de Brasília são homenageadas, dentre as quais Ágata Benício, Martinha do Côco e Noélia Ribeiro. Performances e leituras marcam o evento, com discotecagem de Jul Pagul, que comandava o Balaio Café.
Sábado, às 19h, no Espaço Cultural Ubuntu (Qd. 101, Recanto das Emas). Entrada franca.
Literatura por Mulheres
Em formato de mesa redonda, o evento contará com três autoras da cidade escolhidas pelo público por meio da página do evento no Facebook: Teca Machado, Wall Oliveira e Verônica Saiki, com mediação de Cínthia Kriemler, autora do livro de contos Na escuridão não existe cor-de-rosa (Editora Patuá).
Sábado, às 15h, no Espaço Cultural SESC (Estação 504 Sul, Teatro Ary Barroso). Entrada franca.
Grl Pwr Day!
A proposta é reunir dois eventos em um só. O primeiro é o Flash das minas, quando apenas tatuadoras mulheres farão desenhos a preços mais em conta, desde que tenham a ver com a temática feminina. Amanda Silva, Téssia Araújo, Luana F. Lovo, Júpiter Coroada e Dai Araùjo Bodyart cobrarão preços entre R$ 200 e R$ 500 pelas artes na pele. A outra iniciativa é a Feira Dente, tradicional no mercado de publicações do DF, com apenas artistas mulheres entre as expositoras . A lista inclui a irreverente Lovelove6 e o coletivo feminino Supernova.
Domingo, às 12h, na Endossa (307 Sul, Bl. A, lj. 33). Entrada franca.
Mulher, como te vejo
Promovida pela Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher com alunos de artes plásticas da Universidade de Brasília, a exposição reúne trabalhos que discutem a participação feminina na política, padrões de beleza, mulheres que marcaram a história e outros vieses. As obras têm técnica mista, de bordados de ponto cruz a xilogravuras. O objetivo, também, é marcar a luta em um local onde a segregação feminina é gritante.Até 17 de março, das 9h às 18h, no Espaço Mario Covas da Câmara dos Deputados.
5UINA Convida Julia Oga
A artista visual, VJ, produtora e uma das organizadoras do movimento #BsBRespeitasmina, Julia Oga, é convidada para discotecar no evento em que apresentará sua pesquisa musical, com abertura da residente Mari Perrelli. Mulheres têm direito a dose dupla de caipirinha e caipiroska.
Hoje, das 18h às 22h, no 5uinto Bar (102 Norte, Bl. A, lj. 56; 3081-0183). Entrada franca.
Quarta delas especial Rosé Piscine
O evento Quarta delas conta com edição especial, com open bar do vinho francês Rosé Piscine por R$ 59,90, promoção válida para as mulheres que pedirem um prato do cardápio do jantar. Para os homens que as acompanharem, a garrafa também tem preço mais em conta, por R$ 70. Beba com moderação.
Hoje, das 19h às 22h, no Cantucci Bistrô (403 Norte, Bl. E; 3328-5242).
Projeto Divas
As grandes divas da música — de Diana Krall a Amy Winehouse — serão homenageadas no projeto do restaurante, com interpretação da cantora sueca Kajsa Beijer na companhia de Flávio Silva, no piano, e Daniel Castro, no baixo acústico.
A partir de hoje, às 21h, no Limoncello Ristorante (402 Sul, Bl. A, lj. 33; 3226-3208 e 98451-8698). Couvert artístico a R$ 10.
Welcome drink no Jambu
A casa que reúne a cozinha de autor e ingredientes típicos do Pará oferece um welcome drink (drinques de boas-vindas) a todas as clientes durante o funcionamento. Elas também poderão experimentar a nova sobremesa do restaurante: uma releitura da ganache de chocolate com açaí.
Hoje, das 12h às 15h e das 19h às 23h, no Jambu (Vila Planalto, Av. JK nº 2, Em frente ao balão de entrada; 3081-0900).
Fique atento
Três maneiras de empoderar a mulher diariamente e não deixar a luta se restringir ao 8 de março
- Em briga de marido e mulher, meta a colher! A cada uma hora e meia, uma mulher morre no país vítima da violência doméstica. Se presenciar uma discussão, procure a polícia ou apoio pelo número 180, criado para atender mulheres em situação de vulnerabilidade;
- Conheça o trabalho das deputadas brasileiras. Engaje-se politicamente e não apenas virtualmente. No Congresso Nacional, atualmente, há apenas 51 deputadas do total de 513 cadeiras. A situação não é diferente no Senado, onde o percentual sobe para 16%. Envolva-se com o trabalho dessas parlamentares que pedem, entre outras questões, por uma cota temporária de até 16%, por meio da PEC 134/15;
- Não apoie a cultura do estupro. No país, uma mulher é violentada a cada 11 minutos. Mas essa cultura não está ligada apenas à violência sexual. Ela se refere ao senso de que, quando uma mulher é vítima em situações diversas, pode ter alguma culpa. Esqueça de vez frases e questionamentos como “mas o que ela queria sozinha a essa hora na rua?”, “que roupa ela vestia?” ou “deve ter provocado”.
Fonte: Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher