A mídia ocidental, por sua vez, noticiou na época que o acordo deveria “permitir que a China, a principal rival da hegemonia econômica dos EUA, e o Brasil, a maior economia da América Latina, conduzissem suas maciças transações comerciais e financeiras diretamente, trocando yuan por reais e vice-versa ao invés de passar pelo dólar”.
Um meio de comunicação estatal chinês disse, entretanto, que o maior banco comercial do país, o Banco Industrial e Comercial da China (ICBC, na sigla em inglês), processou a primeira liquidação transfronteiriça de yuans no Brasil em sua filial local, “marcando outro passo significativo na globalização do yuan”.
A transação se tornou a primeira desse tipo desde que o banco central da China autorizou o ICBC como um banco de compensação de yuans no Brasil em fevereiro.
Especialistas chineses foram citados pelo veículo dizendo que “espera-se que os acordos em yuans impulsionem a recuperação econômica e comercial regional na era pós-COVID-19 e ajudem as empresas a encontrar uma alternativa mais confiável ao dólar americano, à medida que buscam um comércio transfronteiriço mais seguro e acordos de investimento”.
O pesquisador assistente do Departamento de Estudos Latino-Americanos e Caribenhos do Instituto de Estudos Internacionais da China, Zhang Jieyu, disse à agência que o acordo do yuan com o Brasil “envia uma mensagem clara da crescente aceitação e influência da moeda chinesa globalmente, que servirá como um exemplo a ser seguido por mais países”.
A agência informou que “enquanto o dólar americano ainda domina as reservas cambiais do Brasil, o papel do yuan, como uma moeda de reserva internacional em ascensão, tem sido destacado ultimamente”.
Um recente relatório de pesquisa do Banco Central do Brasil mostrou que, no final de 2022, a proporção do yuan nas reservas cambiais internacionais do Brasil atingiu 5,37%, superando a proporção do euro em 4,74%, o que significa que o yuan se torna a segunda maior moeda de reserva do país sul-americano.
Índia
Embora a Índia esteja pessimista sobre o comércio de yuan devido às relações tensas do país com a China, a própria ideia de diversificar as moedas de comércio exterior é de grande interesse para Nova Deli.
Relatos da mídia disseram na semana passada que uma série de países estava conversando com o banco central da Índia para discutir a conclusão de transações comerciais mútuas em rúpias indianas.
Os países supostamente incluem os vizinhos imediatos da Índia, como as Maldivas e Mianmar, bem como a Rússia e até o Reino Unido, Alemanha e Nova Zelândia.
Segundo os relatórios, empresas e bancos dos países mencionados planejam agora criar as chamadas “contas vostro” (conta de correspondente estrangeiro) em bancos indianos, o que vai os ajudar a fechar negócios para o fornecimento de produtos indianos no exterior e vice-versa.
No momento, o sistema parece bastante complicado, visto que a abertura de cada uma dessas contas deve ser aprovada pelos reguladores indianos e que os saldos acumulados das contas só podem ser investidos em títulos do governo indiano. Especialistas dizem que, embora o sistema esteja fora de sintonia com os princípios do livre comércio, ele representa um grande avanço. Acredita-se que o esquema já tenha sido testado em transações relacionadas ao comércio russo-indiano e da Índia e do Irã.
Campanha do BRICS para ‘aposentar’ o dólar
Quanto ao BRICS como um todo, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse em fevereiro que os Estados-membros do grupo já estão trabalhando ativamente para aumentar os pagamentos em moedas nacionais no comércio mútuo e nas operações financeiras devido à falta de confiabilidade do dólar.
“A participação das moedas nacionais nos acordos entre os países do BRICS já está crescendo rapidamente. Os países do BRICS têm iniciativas que contemplam a necessidade de trabalhar na criação de sua própria moeda. A razão é muito simples: não podemos confiar em mecanismos que estão nas mãos daqueles que podem trapacear a qualquer momento e se recusar a cumprir suas obrigações”, disse Lavrov a repórteres.
O economista e pesquisador russo, Mikhail Khazin, disse à Sputnik que o domínio do dólar pode acabar com o surgimento de várias zonas de moeda alternativa, incluindo as regiões da América Latina, Eurásia, China e Índia.
Khazin argumentou que o processo já está em andamento e que “agora faz sentido criar um sistema de pagamento que combine os sistemas monetários das zonas eurasiana, chinesa, indiana e latino-americana”.
“É preciso criar um sistema de pagamentos independente do dólar”, destacou.
Nações do golfo
Em meados de março, o Chinese Export-Import Bank supostamente fechou o primeiro acordo de cooperação e empréstimo com o Banco Nacional da Arábia Saudita. O objetivo é garantir a liquidação futura das transações entre empresas dos dois países em moedas nacionais.
De acordo com especialistas, Riad começou a considerar a mudança para o comércio de yuans já em março de 2022, e sua cooperação ativa com Pequim neste setor nos últimos meses contribuiu significativamente para o processo.
No final do mês de março, a China assinou o primeiro acordo de energia liquidado em yuan referente a cerca de 65.000 toneladas de gás natural liquefeito (GNL) dos Emirados Árabes Unidos.