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‘Decepção e medo’: médico é agredido por acompanhante de paciente morta em UPA de Águas Lindas (GO)

Pablo Henrique Leal foi levado para a delegacia junto ao marido da paciente após a agressão — Foto: Arquivo pessoal

Família da paciente alega que houve negligência no atendimento e pede o afastamento do médico

O médico Pablo Henrique de Araújo Leal foi agredido com ao menos cinco socos pelo acompanhante de uma paciente na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Águas Lindas, em Goiás, na última segunda-feira. O marido da paciente, que sofreu uma parada cardíaca e morreu na unidade de saúde, agrediu o médico e alega que o falecimento da esposa aconteceu por negligência no atendimento.

A paciente, de 36 anos, já tinha ido à mesma UPA na última semana com suspeita de dengue, porém, a doença não foi confirmada. Após ter a medicação ministrada, ela recebeu alta e voltou para a casa. A mulher continuou com os mesmos sintomas, como dor intensa na barriga, até que voltou para a UPA na segunda-feira (11).

O médico que sofreu o ataque afirma que a paciente passou pela triagem e foi atendida no setor de casos leves, mesmo com a superlotação da UPA em vista da epidemia de dengue na cidade. Ele relata ainda que, no momento em que percebeu a piora no quadro de saúde dela, solicitou a transferência para o setor de casos graves.

Leal rebateu a família da paciente, que o acusa de ter mandado ela “calar a boca e parar de se debater, porque a dor não era para isso tudo”.

— Após a medicação ela disse que a dor estava melhorando. Pouco depois fui chamado para verificar uma crise convulsiva que teria acontecido, mas quando entrei no consultório ela estava sangrando por ter tirado o acesso venoso sozinha e chutava a parede reclamando de dor na barriga. Foi quando eu disse que ela não podia chutar a parede e arrancar acessos porque poderia se machucar e piorar o próprio quadro — contou o médico.

Cerca de duas horas após a transferência da paciente para o setor de casos graves, o marido invadiu a sala do médico e o atacou com socos. Pablo relata que a violência não foi um caso isolado na UPA de Águas Lindas.

— Minutos antes da agressão, nós [médicos] anunciamos que queríamos reforço na segurança pois todos estavam inseguros com a pressão dos pacientes para que os atendimentos fossem rápidos, em uma unidade superlotada. Semanas antes aconteceu tiroteio na unidade. Eu já fui ameaçado por uma paciente que disse que daria um tiro na minha cara. Não é querendo pagar de coitado, nem de bonzinho, mas não preciso me expor a violência para trabalhar — afirmou Leal.

O médico, que não trabalha desde o ataque e esteve na UPA nesta quarta-feira para recuperar filmagens das câmeras de segurança que devem auxiliar nas investigações, relata que tem medo das proporções que o caso pode tomar.

O que diz a família da paciente

O advogado responsável por representar a família que acusa o médico de negligência, Fábio Cavalcanti, afirma que buscará responsabilizar o município de Águas Lindas pelo ocorrido. O marido da paciente, que agrediu o médico, alega que Leal não prestou atendimento correto, enquanto ela se debatia de dor, e ainda falou para ela “calar a boca e parar de se debater, porque a dor não é para isso tudo”. A defesa do agressor pede pelo afastamento do médico da UPA.

A família da paciente aguarda o diagnóstico por meio do laudo do Instituto Médico Legal (IML), já que até o falecimento a suspeita de dengue não tinha sido confirmada. O advogado da família pontuou a piora nos exames que avaliam o funcionamento dos rins da paciente.

— Em um exame dos rins dela, estava tudo normal na primeira ida no medico, na semana anterior à morte. Já no dia 11, os indicadores estavam dez vezes mais altos do que o normal. Uma das linhas da investigação é se não houve medicação errada e por isso a parada cardíaca aconteceu — afirmou Fábio Cavalcanti.

Por meio de nota, o Conselho Regional de Medicina de Goiás (CREMERGO) afirmou que repudia a violência sofrida pelo médico e que as circunstâncias do atendimento que culminaram em agressão serão apuradas pelo conselho. “Infelizmente, esse episódio inadmissível e repugnante contra médicos tem se tornado comum e medidas urgentes precisam ser implementadas para garantir a segurança de quem trabalha salvando vidas. A agressão sofrida pelo médico não representa apenas um atentado à integridade física e moral de um indivíduo, mas é uma afronta a toda a classe médica e ao sistema de saúde goiano”, afirma em nota.

Procurada, a Polícia Civil de Goiás afirmou que a Polícia Militar (PMGO) lavrou termo circunstanciado de ocorrência relativo ao crime de lesão corporal dolosa. Também procurada, a PMGO orientou, por sua vez, que “a Polícia Civil de Águas Lindas” deveria ser contactada, “pois certamente conduzirá as investigações com fins ao esclarecimento do ocorrido”.

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