Aliança entre a direita moderada e a extrema-direita fez Annegret Kramp-Karrenbauer desistir da corrida eleitoral e da presidência do partido
A Alemanha afundou um pouco mais nesta segunda-feira na crise política provocada pela extrema-direita, com a decisão da sucessora designada de Angela Merkel, Annegret Kramp-Karrenbauer, de renunciar à candidatura ao cargo de chanceler.
O ministro da Economia, Peter Altmaier, muito próximo a Merkel, descreveu uma “situação extremamente grave” para o partido conservador da chanceler, a União Democrata Cristã (CDU).
“Nosso futuro está em jogo”, declarou, enquanto o Partido Verde falou de uma “situação dramática” para o país.
Na semana passada, a aliança inédita entre a direita moderada e o partido de extrema-direita Alternativa para Alemanha (AfD) para governar a região de Turíngia provocou um terremoto político.
O escândalo de Turíngia quebrou um tabu na história política alemã do pós-guerra: a rejeição a qualquer tipo de colaboração com a extrema-direita pelos partidos tradicionais.
Annegret Kramp-Karrenbauer, conhecida como AKK, era criticada há vários dias por não controlar o partido e, finalmente, decidiu assumir sua responsabilidade.
AKK justificou sua decisão ao citar a tentação de um setor do partido de colaborar com a AfD, conhecido por suas posições contra os migrantes e contra o que chama de elites.
Ela deseja conservar o cargo de ministra da Defesa.
“Uma parte da CDU tem uma relação pouco clara com a AfD”, disse em uma reunião interna.
A CDU está dividida entre adversários e partidários de uma cooperação mais estreita com a AfD, sobretudo nos estados do leste, que pertenciam à Alemanha Oriental, e onde a extrema-direita é muito forte e complica a formação de maiorias regionais.
“Temo que o aconteceu na Turíngia ocorra em alguns anos a nível nacional”, declarou um integrante da CDU, Wolfgang Bosbach, sobre a aliança entre direita moderada e radical.
– Revés para Merkel –
A saída de AKK representa um duro revés para Angela Merkel, que a havia designado como sucessora por sua linha moderada e apesar de algumas divergências políticas.
“É possível que o fim da chanceler esteja próximo”, afirmou o jornal Süddeutsche Zeitung.
O último mandato de Merkel, que começou em 2018, já foi afetado por várias crises pela fragilidade de sua coalizão com os social-democratas ou as divisões dentro de seu próprio partido.
“A questão de saber quanto tempo ainda permanecerá no posto dependerá de quem será nomeado presidente do partido (CDU) e candidato à chancelaria”, destaca o Süddeutsche Zeitung.
Se nos próximos meses a CDU passar à liderança de um rival político forte seria difícil para Merkel permanecer no cargo.
A saída anunciada de AKK deixa o campo aberto para o seu principal rival, Friedrich Merz, defensor de uma guinada à direita para recuperar parte dos eleitores que migraram para a AfD
Merz perdeu por pequena margem a eleição para a presidência do partido em dezembro de 2018.
Recentemente Merz renunciou ao controverso emprego em um fundo de investimentos e anunciou que estava disponível.
Ele tem o apoio de grande parte da ala direita da CDU, em pé de guerra com o centrismo de Merkel que dominou o partido nos últimos anos.
“Tenho a sensação de que não vai durar muito, em breve teremos eleições”, disse o ex-ministro social-democrata Sigmar Gabriel.