Cinco cadáveres foram achados em fevereiro em mata da Zona Sul de SP. Policia suspeita que vítimas tenham sido executadas em tribunal do crime.
Os cinco corpos que estavam enterrados num cemitério clandestino em uma mata fechada na Zona Sul de São Paulo, descoberto em fevereiro pela Polícia Civil, são de homens e passarão por exames de DNA para tentar descobrir suas identidades. A investigação vai usar um cão farejador da Defesa Civil de Osasco, na região metropolitana, para saber se há mais cadáveres de desaparecidos enterrados no local.
As informações são de policiais civis que investigam o caso. Eles apuram se as vítimas foram mortas por integrantes de uma facção numa espécie de tribunal do crime. As pessoas mortas seriam desafetos dos criminosos.
Como as perícias iniciais do Instituto Médico-Legal (IML) não apontaram indícios de que as pessoas foram mortas por tiros, existe a possibilidade de que possam ter sido executadas. Uma das hipóteses é que os assassinos usaram um torniquete (tiras de pano amarradas a um pedaço de pau) para asfixiar as vítimas.
A investigação ainda aguarda os resultados dos laudos antropológicos para saber como os cinco homens foram mortos. Alguns corpos estavam em avançado estágio de putrefação
Familiares de pessoas desaparecidas na região de M´Boi Mirim, onde fica o cemitério clandestino, estão fornecendo material genético para ser comparado ao DNA extraído das ossadas achadas.
“Por enquanto nós sabemos que os corpos são do sexo masculino. Ainda não temos a identificação, mas estamos encaminhando possíveis familiares de vítimas ao IML [Instituto Médico Legal] para tentar essa identificação ou através da arcada dentária, ou então do exame de DNA”, disse o delegado Rodrigo Borges Petrilli, titular da equipe A Sul da Divisão de Homicídios do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
A declaração de Petrilli foi dada na manhã de quinta-feira (10) , durante visita da sua equipe ao cemitério clandestino juntamente com membros do Ministério Público (MP), Defensoria Pública e Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe).
Autoridades e representantes tinham ido ao local, que fica numa área rural com árvores, no Jardim Herculano, para esclarecer dúvidas a respeito da investigação. Uma delas era a quantidade de mortos encontrados.
“Viemos aqui hoje [quinta-feira] nos certificarmos do que se trata e checarmos as informações”, disse Rildo Marques de Oliveira, presidente do Condepe. “Extremamente preocupado com a possibilidade de estarmos diante de mais uma das valas clandestinas onde se depositaram corpos, e isso para nós, no momento atual é muito preocupante, em razão de diversas pessoas que estão desaparecidas. E também do crime bárbaro e das execuções sumárias que estão ocorrendo muito no estado de São Paulo”.
Para chegar ao cemitério clandestino é preciso passar por uma viela numa comunidade, seguir uma trilha estreita em meio a mato tombado e lama até a mata fechada onde estão as valas abertas pela polícia.
Três covas foram encontradas pelos investigadores. A polícia apura se uma delas foi aberta 15 dias antes de a equipe do DHPP encontrar os corpos. As outras duas são mais antigas e só foram encontradas ossadas.
Os policiais chegaram até as covas após receberem informações de que pessoas foram vistas entrando e saindo da mata. A principal hipótese é a de que as vítimas foram levadas até o local por integrantes de uma quadrilha que age dentro e fora dos presídios.
“A principal linha [de investigação] é de um possível tribunal do crime, sem dúvida nenhuma”, disse o delegado Petrilli. “Pessoas que de alguma forma desagradaram o crime organizado”.
No tribunal do crime, integrantes da facção recebem ordens de suas lideranças para julgar os desafetos, devido a rixas internas, estupros, dívidas de agiotagem e do tráfico de drogas.
Algumas das penas impostas são tortura e execução.
Um cão deverá ser usado nos próximos dias para vasculhar a área do cemitério clandestino em busca de vestígios que possam levar a localizar mais corpos. “Novas buscas serão feitas para tentar localizar mais corpos”, afirmou o delegado.