Uma tecnologia que mede o nível de glicose com um sensor na pele está ajudando pacientes a manejar melhor essa doença na vida real, segundo estudos
Desde seu lançamento, o equipamento FreeStyle Libre, da farmacêutica Abbott, destacou-se por dispensar a necessidade de picar o dedo para controlar a glicose de pacientes com diabetes. Sua tecnologia, que permite medir o açúcar no organismo passando um leitor por cima de um pequeno sensor no braço, foi corroborada por estudos controlados e já é utilizada por 650 mil pessoas no mundo. Mas e aí: como esse pessoal está lidando agora com a doença?
“Uma coisa é comprovar a eficiência de um teste em pesquisas controladas, com pacientes acompanhados de perto pelos profissionais. Outra é avaliar seu uso no dia a dia, com todos os desafios da vida”, compara o endocrinologista Luís Eduardo Calliari, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Eis que, no 78º congresso da Sociedade Americana de Diabetes, foram apresentados estudos que visam justamente responder aquela pergunta. A partir de dados de mais de 250 mil leitores do FreeStyle Libre – a maioria vindos da Europa –, notou-se que os usuários passaram, em média, a mensurar a própria glicemia 13 vezes ao dia.
“É uma média muito superior à observada com os métodos tradicionais, em que o paciente faz um pequeno furo no dedo, coloca uma gota de sangue em uma fitinha e então a insere em um aparelho”, diferencia Calliari.
Mais: o número de vezes em que um indivíduo checa seus níveis de glicose foi diretamente relacionado ao melhor controle do diabetes. Dito de outra forma, quanto mais medições, maior a probabilidade de se manter dentro de índices considerados normais e menor o risco de hipoglicemia.
Calliari inclusive conduziu um estudo semelhante no nosso país, com dados de quase 8 mil brasileiros, que foi exibido naquele congresso americano. “E, no geral, também observamos que os pacientes verificavam a glicemia por volta de 13 vezes ao dia”, reitera.
Conclusão: o FreeStyle Libre parece agradar a população brasileira. O desafio é oferecer esse tipo de dispositivo às camadas menos favorecidas da sociedade.
A questão do preço e as alternativas
Segundo Calliari, o uso de sensores para controlar o diabetes é uma tendência tão forte que, com o tempo, dificilmente não será incorporado na rede pública, ao menos para parte dos diabéticos. Ainda assim, hoje a tecnologia não chegou ao Sistema Único de Saúde e seu custo é considerável.
Veja: a cada 14 dias, você precisa trocar o sensor no braço. Trata-se de uma prática simples, em que o sujeito remove o dispositivo com a mão mesmo, eventualmente aplicando um pouco de óleo de amêndoa, por exemplo. Já para inserir o novo sensor, você usa uma espécie de carimbo. Tudo pode ser feito em casa e o procedimento é quase indolor.
A questão é que cada sensor custa, segundo o site do FreeStyle Libre, 239,90 reais. Simplificando um pouco a conta, o paciente gastaria quase 500 reais por mês, sem considerar o preço do leitor.
“Agora, quem não pode fazer esse investimento também não precisa se desesperar. As fitas são bastante confiáveis”, pondera Calliari. Segundo ele, o que os estudos recentes com as novas tecnologias nos mostram é a importância de medir a glicemia frequentemente – seja no dedo, seja no braço.