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Cobra píton solta ‘por engano’ pela PM no DF pode causar desequilíbrio ambiental; especialistas explicam

Serpente, natural da Ásia, é considerada exótica no Brasil. No Cerrado, ela pode representar ameaça a outras espécies; além disso, a píton é capaz de se reproduzir sozinha.

Um equipe do Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA) do Distrito Federal soltou uma cobra píton – espécie exótica original da Ásia – em uma área de Cerrado, após confundir o animal com uma jiboia . O caso ocorreu na quarta-feira (6), na região do Gama.

Em nota, a PM disse que está em busca do animal, de 2 metros de comprimento (veja mais abaixo). O problema, é que a confusão pode provocar um desequilíbrio ambiental, já que a cobra não tem predadores no Brasil, conforme explica a ecóloga e professora do curso de Ciências Biológicas da Universidade Católica de Brasília (UCB), Morgana Bruno.

“É um risco gigantesco. Vai influenciar na cadeia alimentar, porque mais um animal vai concorrer com os nossos predadores e, além disso, os animais do Cerrado estão acostumados a fugir só dos predadores típicos da região”, diz a professora.

Ao ver as imagens, o professor de Ciências Biológicas do Instituto Federal de Brasília (IFB), Marcos Vitor Dumont Junior, diz acreditar que se trata de uma píton birmanesa. A serpente é proveniente do sudeste e do sudoeste asiático.

A cobra não é venenosa, conforme o professor. No entanto, as pítons são capazes de se reproduzir sozinhas(entenda abaixo).

“Se acontecer, será uma população de pítons, já que ela não tem predador [no DF]”, diz Marcos Vitor Dumont.

Riscos para o meio ambiente

 

Cobra é solta na natureza por policiais militares do BPMA — Foto: PMDF/Reprodução

Cobra é solta na natureza por policiais militares do BPMA — Foto: PMDF/Reprodução

Segundo a professora Morgana Bruno, a píton irá se alimentar, por exemplo, de filhotes, pequenos mamíferos, aves e ovos. Assim como a jiboia, a espécie exótica mata as presas por constrição, ao estrangular o animal ela limita a circulação do sangue das presas.

Morgana explica que, além de representar um predador a mais na natureza, a píton pode desencadear o surgimento de novas doenças em outras espécies.

“Quando se inclui um animal exótico, não só se introduz outro predador com o qual [os animais] não estão acostumados, mas também doenças que podem passar para as serpentes daqui.”

Segundo a ecóloga, a jiboia e a píton apresentam algumas semelhanças. Mas, para ela, a confusão entre as duas não ocorreria se a análise fosse feita por um especialista em serpentes.

Reprodução

 

Cobra píton, de 40 kg, apreendida no Entorno do DF, em 2020 e levada para o Zoológico de Brasília — Foto: TV Globo/Reprodução

Cobra píton, de 40 kg, apreendida no Entorno do DF, em 2020 e levada para o Zoológico de Brasília — Foto: TV Globo/Reprodução

Segundo o Zoológico de Brasília, a píton asiática é considerada “uma das maiores serpentes constritoras do mundo”, pela força e pelo tamanho. Na idade adulta, o animal costuma atingir cerca de 4,5 metros.

Apesar de apenas uma cobra da espécie ter sido solta no Distrito Federal, o professor Marcos Vitor Dumont Junior explica que as pítons são capazes de se reproduzir sozinhas. A reprodução assexuada da espécie, chamada de partenogênese, é incomum, embora não rara.

Partenogênese é uma palavra grega que significa “nascimento virgem”. Na biologia, ela se refere, especificamente, à reprodução assexuada feminina. O fenômeno pode ser encontrado em plantas, insetos, peixes, répteis e até pássaros.

No caso da píton, a partenogênese é facultativa, ou seja, o animal consegue descendentes fazendo sexo ou não. Até a publicação desta reportagem não havia informações se a cobra solta no Distrito Federal é uma fêmea.

Comercialização
De acordo com a Polícia Militar do Distrito Federal, a cobra píton solta na mata é “extremamente calma, sendo indício de que era criada em cativeiro”. Segundo o professor Marcos Vitor Dumont Junior, a espécie é muito procurada por pessoas que querem comprar uma cobra como animal de estimação.

No entanto, a professora Morgana Bruno afirma que os custos para manter a serpente em cativeiro são grandes. Um dos motivos, é que a píton pode viver cerca de 30 anos.

“Dá muito trabalho. Se não conseguem mais cuidar, para se livrar da multa, acabam soltando o animal”, diz a ecóloga.
Segundo a Polícia Militar do DF, a comercialização da píton já está sendo autorizada em alguns estados do Brasil. A reportagem questionou o Ibama , no entanto, até a última atualização desta reportagem, o instituto não havia informado sobre a autorização para o comércio.

O que diz a PM
Em nota, após a confusão, a PMDF disse que “o Batalhão de Policiamento Ambiental realiza um trabalho de excelência o qual tem resultado em altos índices de produtividade”.

Segundo a corporação, “com o apoio do Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres (Cetas) e contando, muitas vezes, com a boa vontade de clínicas privadas, o batalhão realiza o manejo desses animais na tentativa de salvar a todos de forma que voltem saudáveis ao seu habitat natural.”

Veja abaixo a íntegra da nota da PMDF

A Polícia Militar do Distrito Federal, por meio do Batalhão de Policiamento Ambiental, realiza um trabalho de excelência o qual tem resultado em altos índices de produtividade. Apenas nesses três primeiros meses de 2022, 126 cobras foram resgatadas. Em 2021 foram 512 cobras.

Com o apoio do Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres (Cetas) e contando, muitas vezes, com a boa vontade de clínicas privadas, o batalhão realiza o manejo desses animais na tentativa de salvar a todos de forma que voltem saudáveis ao seu habitat natural.

O Batalhão, juntamente com o Zoológico e demais órgãos ambientais, já está à procura da Píton. Informamos que a referida cobra era extremamente calma, sendo indício de que era criada em cativeiro. Ressaltamos que alguns estados já estão autorizando o comércio desse animal.”

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