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Cirurgia bariátrica pode levar à remissão da hipertensão

Estudo brasileiro mostra que 40,9% dos pacientes com pressão alta submetidos a essa operação controlaram a doença, sem remédios. Mas ela não é para todos

Segundo estudo, cirurgia bariátrica pode ajudar no controle da pressão alta. (Ilustração: O. Silva / Foto: Gustavo Arrais/SAÚDE é Vital)

Cientistas apresentaram mais dados contundentes de que a cirurgia bariátrica, originalmente focada apenas na perda de peso, pode ser uma arma para combater a hipertensão, condição que afeta um em cada quatro brasileiros. Segundo essa pesquisa, alguns pacientes chegaram a normalizar a pressão sem necessitar de remédios.

A investigação, realizada pelo Hospital do Coração (HCor), em São Paulo, está em andamento há um tempo. As conclusões do primeiro ano do experimento, aliás, já foram apresentadas no Congresso Americano de Cardiologia de 2017. Você pode conferi-las nesta reportagem publicada no site da SAÚDE.

Pois os mesmos 100 voluntários com índice de massa corporal (IMC) entre 30 e 39,9 — ou seja, com obesidade de grau I ou II — continuaram sendo acompanhados por três anos. Desde o princípio, metade do grupo foi submetida a um by-pass gástrico (o tipo mais comum de bariátrica), enquanto a outra manteve o tratamento clínico tradicional, com medicamentos e orientação de um nutricionista.

Após esse período, constatou-se que 40,9% dos operados permaneceram com a pressão controlada sem recorrerem a nenhum fármaco. Isso só aconteceu com 2,5% dos que foram apenas remediados.

“No início, todos ingeriam no mínimo dois remédios na dose máxima. Quem não passou pela cirurgia agora toma, em média, três”, acrescenta Carlos Aurelio Schiavon, cirurgião do HCor que liderou a investigação.

Cabe destacar que, naqueles resultados preliminares com acompanhamento de um ano, 51% dos indivíduos que passaram pelo procedimento estavam com a pressão normalizada. Em outras palavras, com o tempo menos gente que apostou na cirurgia consegue sustentar a remissão da hipertensão.

Schiavon conta que essa redução de dois anos para cá é esperada. “Isso também aconteceu nos estudos que focaram no diabetes. Houve uma queda porque estamos falando de um problema crônico”, explica o médico do HCor. Genética, sedentarismo e alimentação desequilibrada, entre outras coisas, favorecem a volta da pressão alta.

“Mesmo assim, houve um resultado excepcional frente ao tratamento clínico”, compara o especialista.

A versão atualizada da pesquisa foi divulgada no congresso da Associação Americana do Coração de 2019. Os voluntários ainda serão acompanhados por mais dois anos para ver como evoluem. “A gente acredita que as taxas de remissão terão certa estabilidade até o quinto ano, mas temos que aguardar”, pondera Schiavon.

Outro ponto digno de nota: mesmo entre o pessoal operado que não conseguiu abrir mão de todos os comprimidos, melhoras foram observadas. Segundo o artigo, 72% diminuíram em 30% o uso de comprimidos. No grupo que serviu de comparação, tal número não superou 12,5%.

Como a cirurgia bariátrica ajuda a baixar a pressão

De acordo com Schiavon, o procedimento tem um efeito global nas pessoas com obesidade. Antes de tudo, ele ajuda a emagrecer, um atributo que por si só já reduz a pressão.

Fora isso, o procedimento interfere na produção de hormônios e outras substâncias do organismo que controlariam a hipertensão. Inclusive, algo parecido ocorre com o diabetes.

“Observamos, como um objetivo secundário do estudo, que o grupo que não fez a operação também acabou tomando mais medicações para diabetes e colesterol alto”, informa o cirurgião.

Toda pessoa com hipertensão deve fazer a cirurgia?

Nada disso. Atualmente, várias sociedades médicas a recomendam para indivíduos com IMC entre 35 e 39,9 e que possuam alguma comorbidade, como diabetes ou a própria hipertensão. Quem tem o IMC acima de 40 também pode realizá-la, mesmo na ausência de outros problemas de saúde.

Detalhe: a cirurgia bariátrica em teoria só entra em cena quando a pessoa cumpre esses requisitos por cinco anos e já passou, sem sucesso, por outros tratamentos durante dois anos.

Apesar da conclusão promissora do trabalho brasileiro, vale lembrar que essa técnica não está isenta de riscos. “Com certeza, temos que fazer um trabalho grande com os pacientes para entenderem que precisarão se cuidar pelo resto da vida”, afirma o pesquisador.

Em um artigo australiano com 24 766 participantes, foi observado que atendimentos hospitalares em decorrência de transtornos psiquiátricos se tornaram três vezes mais comuns nos meses e anos seguintes à operação. Houve ainda um aumento de cinco vezes nos relatos de automutilação — e 9,6% das mortes registradas entre esse pessoal decorreram do suicídio.

Por outro lado, levantamentos apontam que essa estratégia leva a uma queda nas taxas de mortalidade entre sujeitos com a chamada obesidade grave.

Trata-se, portanto, de pesar os benefícios e tomar todos os cuidados necessários — antes e depois de ir para a sala cirúrgica. “Acho que quando se trata de uma doença silenciosa como a hipertensão, que traz vários problemas para a saúde, inclusive morte, as vantagens são maiores”, opina Schiavon.

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