A manutenção é falha, mas falta também educação ao brasiliense, que insiste em sujar o espaço público.
Quem nunca admirou o reflexo de uma bela paisagem num espelho d’água? Na capital federal, são várias as possibilidades. O artista plástico e paisagista Burle Marx já pensava na construção das bacias para atenuar o clima do cerrado. A ideia era amplamente divulgada pelo modernista em praças, jardins, espaços públicos e ambientes abertos. O conceito foi popularizado em projetos do arquiteto Oscar Niemeyer. Disponíveis na Catedral Metropolitana, nos palácios e em outros monumentos, eles atraem olhares curiosos. A maioria, no entanto, chama a atenção pelo mau estado de conservação.
Além das marcas indeléveis do tempo e da depredação, os reservatórios estão sujos. Se, por um lado, falta manutenção, por outro está o desleixo do brasiliense com o espaço público. Na Praça do Relógio, em Taguatinga, o descaso é tanto que a fonte do principal cartão-postal daquela cidade passa boa parte do tempo desligada. A situação se repete na Torre de TV, no coração de Brasília.
O clima seco e quente do planalto central estimula arquitetos a lançarem mão dos espelhos d’água, boa parte deles com fontes. O recurso está presente em áreas públicas, comerciais e residenciais. A proposta de tornar o ambiente mais agradável é frustrada pela negligência do cidadão. “Esse era para ser um espaço de lazer e convivência, mas o desleixo das pessoas e do governo transformou isso aqui em um lugar marginalizado. Faz tempo que nada funciona. A fonte literalmente secou”, reclama a auxiliar administrativa Priscila Kênia Campos, 26, moradora da QNL 16, em Taguatinga Norte. A mãe da moça, Tânia Maria Campos, 51, moradora do Riacho Fundo 2, completa: “Cada vez que passo por aqui está pior. Daqui a pouco nem vai existir mais”.
A indolência não poupa nem a sede do Executivo local. Na Praça do Buriti, em frente ao palácio, há dois espelhos d’água. As fontes raramente são ligadas. O nível da água está bem abaixo do normal e o resto que ainda sobrevive abriga todo e qualquer tipo de lixo. O Correio flagrou durante a semana um pombo morto flutuando na podridão. Além do desmazelo, o ponto turístico sofre com a ação dos flanelinhas. “Trabalho aqui todo dia. Lavo mais de 15 carros diariamente com a água daí. São, em média, 10 baldes por veículo”, contou o rapaz, que pediu para não ser identificado. A poucos metros dali, o aquífero da Câmara Legislativa secou. Atualmente, o espaço está tomado pela poeira.
Há explicação?
A manutenção desses espaços esbarra na burocracia dos órgãos. A Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) é responsável pelo espelho d’água do Palácio do Buriti e pela fonte da Praça Sul do Conic. O órgão não revelou detalhes sobre a limpeza desses lugares. A Secretaria de Turismo responde pela fonte da Torre de TV. Por lá, a limpeza é semanal e um dos equipamentos do chafariz está com defeito, informou a assessoria de comunicação da pasta.