China vê tecnologia militar russa como ‘fundamental’ na nova corrida armamentista de semicondutores

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A disputa dos Estados Unidos com a China na seara dos semicondutores vem sendo classificada como a nova corrida armamentista deste século, uma alusão que remonta ao período da Guerra Fria. Segundo um especialista ouvido pela Sputnik Brasil, a Rússia é uma pedra fundamental para o desenvolvimento militar do país asiático.

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© AP Photo / Alex Brandon, Eraldo Peres

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As preocupações dos EUA com a elevação da China como uma superpotência no tabuleiro da geopolítica global já não são exatamente um segredo de Estado.

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Desde a ostensiva presença das Forças Armadas norte-americanas no Indo-Pacífico até a sorrateira visita de Nancy Pelosi, ex-presidente da Câmara do país, a Taiwan (gesto que foi, inclusive, muito criticado no Ocidente), o conceito de Guerra Fria 2.0 fica cada vez mais cristalino.

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Porém são nas restrições ao acesso da China à tecnologia de semicondutores dos EUA, uma clara tentativa de impedir o esforço de Pequim para desenvolver sua própria indústria de chips e avançar as suas capacidades militares, que se observa a nova corrida armamentista do século XXI.

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De um lado, há vultosas promessas de investimento das fabricantes de chips nos EUA, que tiveram um aumento nos últimos 18 meses. Do outro, há o governo chinês investindo maciçamente em pequenas empresas de tecnologia no país como política de Estado.

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Tal escalada vem sendo comparada aos investimentos da era da Guerra Fria na corrida espacial, que traz em seu bojo as implicações na liderança tecnológica global e geopolítica, sobretudo no aspecto do desenvolvimento de produtos que vão desde smartphones até sistemas avançados de defesa.

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Elias Jabbour, economista e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e autor dos livros “China: o socialismo do século XXI” e “Socialist Economic Development in the 21st Century — A Century after the Bolshevik Revolution” (“Desenvolvimento Econômico Socialista no Século 21 — Um Século após a Revolução Bolchevique”, em tradução livre), avalia que a China alcançou um grau de soberania monetária em uma dimensão “que a permite praticamente queimar dinheiro em praça pública, no sentido de alcançar a fronteira tecnológica na infraestrutura de semicondutores”.

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“O primeiro ponto é o fato de a China estar se utilizando de uma soberania monetária absurda. E sobre ela, por exemplo, o Estado financiou o surgimento de 2 mil startups para as infraestruturas de semicondutores há dois anos, mais ou menos. Então uma série de iniciativas vêm sendo criadas e […] culminaram, por exemplo, não somente no recente anúncio de que a China tinha condições de fazer este chip de 7 nanômetros, como também no mais difícil, que é alcançar a escala para produzir isso. A China tem condições, dado o tamanho do seu mercado interno; ou seja, o mundo precisa dela. Há o tamanho do seu mercado interno, a sua capacidade financeira e a capacidade de concentrar esforço em um único lugar. Um lugar que, por sua vez, é um Estado socialista bem centralizado”, observa.

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Segundo Jabbour, a China deve alcançar os norte-americanos em médio prazo no que se refere a essas tecnologias.

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Ele explica que um dos grandes entraves dos EUA é, precisamente, a “financeirização”, ou seja, a troca capitalista mediada pelo mercado.

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Ou seja, o que em tese jogaria a fronteira tecnológica à frente é o elemento que retarda o desenvolvimento tecnológico nos Estados Unidos.

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“Creio que a China esteja usando desse artifício para poder enfrentar essa questão. Fora o fato de estar importando engenheiros, oferecendo [salários] quatro a cinco vezes mais altos do que os engenheiros coreanos e taiwaneses ganham em seus lugares de origem. Ou seja, é uma guerra em todos os aspectos possíveis e imagináveis e que pode desembocar inclusive em uma guerra militar. Aí seria a última alternativa americana para brecar a China, o que não está fora do horizonte, a meu ver.”

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E quanto à Rússia?

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Para o professor da UERJ, é evidente que a Rússia já é uma grande provedora de matérias-primas para a China.

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“Aliás, a Rússia talvez seja o único país do mundo que tem todos os elementos da tabela periódica no seu território”, lembra.

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Ele defende a hipótese de que a Rússia foi “incorporada” ao território econômico chinês, um processo que se acelerou durante o conflito da Ucrânia.

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“Não que a Rússia tenha virado uma espécie de ‘colônia chinesa’, ao contrário. Porque a China também substitui importações, ou seja, existe um processo simultâneo de substituição de importações em ambos os lados. Então a cooperação militar tende a aumentar entre Rússia e China, assim como a cooperação energética. Ou seja, em todos os aspectos da vida econômica os dois lados estreitaram as suas relações. Então é evidente que nesse caso as exportações de matéria-prima da Rússia para a China vão aumentar, e muito”, vaticina.

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Jabbour explica que a indústria tecnológica russa é concentrada no setor militar. Inclusive, prossegue, é uma área em que a China ainda é “muito carente e está muito atrás dos Estados Unidos”.

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“E é nesse aspecto que acontece o casamento perfeito: entre o dinheiro acumulado pelos chineses ao longo das suas reservas cambiais e a necessidade de importar tecnologia russa. Então a tecnologia militar russa é fundamental para a China hoje. Tudo gira em torno da transferência de tecnologia da Rússia para a China no setor militar. Talvez aí esteja a grande atualização que o conflito ucraniano oferece à China: a complementação de sua própria indústria bélica com a tecnologia russa, que é muito superior à chinesa”, conclui.

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