“Eu agradeço ao prefeito Fernando Haddad. Muito obrigado, prefeito, nunca o foie gras foi tão conhecido no Brasil. Você é dez!” Foi assim que o chef francês Erick Jacquin, um dos jurados do Masterchef, reality show da Band, reagiu à notícia de que uma decisão judicial liberou o foie gras, o fígado gordo de pato ou ganso, na capital. Conhecido pelo jeito sincero e, por vezes, ácido, Jacquin é um convicto defensor da comercialização da iguaria.
Haddad, por sua vez, afirmou que vai recorrer da decisão e, assim, voltar a proibir a venda do produto na capital.
Para Jacquin, proprietário do Tartar&Co, a lei que proíbe o foie gras serviu de propaganda em favor dos restaurantes que o oferecem no cardápio. “Na realidade, as pessoas que gostam, que produzem, que vendem e que fazem o foie gras devem agradecer ao prefeito”, disse.
O projeto de lei que proíbe o foie gras, de autoria do vereador Laércio Benko (PHS), foi aprovado em primeira votação na Câmara Municipal em 2013, dando início a uma longa polêmica entre defensores dos direitos dos animais e admiradores da culinária francesa. Após aprovação em segunda votação, a norma foi sancionada por Haddad no mês passado.
O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), no entanto, decidiu suspender temporariamente a lei, por considerar que fere a Constituição. Para Jacquin, a decisão é de se comemorar. “Eu acho que a proibição é absurda. O prefeito tem muitas outras coisas para fazer do que cuidar dos patos. Vamos cuidar das ruas sem energia, dos buracos, da segurança, da educação, da escola, da saúde”, afirmou.
O chef Benny Novak, sócio do Ici Bistrô, considera a decisão judicial uma “vitória do bom senso”, diante de uma “lei superpopulista” e “sem pé nem cabeça”. “Não se provou absolutamente nada sobre o uso da gavage em criações de gansos e patos aqui. Ninguém provou que os animais ficam confinados, como vemos nos vídeos absurdos na internet. Se fosse provado, sem dúvida seria uma preocupação ambiental.”
“A gente vai continuar vendendo nosso maravilhoso foie gras sem ter de ficar preocupado”, disse o chef Gabriel Matteuzzi, do Tête à Tête, que planejou um evento para comemorar a “ressurreição” da iguaria na próxima semana. Ele também afirmou que o produto corresponde a 50% das entradas vendidas no restaurante, mas que, caso a proibição siga em frente, não teria dificuldades para pensar em um substituto. “Tenho milhões de coisas mais importantes para pensar. Perderia o prato mais vendido, mas não meu público.”
Convicto de que a polêmica ainda não chegou ao fim, o chef Emmanuel Bassoleil, do Skye, resolveu antecipar a renovação de seu menu para agosto. Pela primeira vez, o cardápio não ofertará aos clientes o foie gras. “Lei tem de respeitar. Até que a situação se desembarace, vou substituir por outros produtos. Quando houver certeza de que será liberado, volto a incluir”, disse.
Recurso
Na quarta-feira,15, Haddad disse que recorrer da decisão é “quase um rito protocolar”. “Em geral, a administração pública defende uma lei aprovada e sancionada”, afirmou. Ele informou, porém, que não havia sido notificado da decisão de terça-feira, 14.
Apesar de ser confesso admirador do foie gras, Haddad disse ter se “sensibilizado” com a causa. “Eu tive tempo de estudar a matéria e julguei que a produção envolvia maus-tratos”, afirmou. Segundo ele, a produção do foie gras é “incompatível com a maneira sustentável de viver”. Para justificar a sanção, Haddad citou experiências internacionais, como em regiões dos Estados Unidos, Europa e Austrália, onde a iguaria é proibida. “Não é uma novidade do Brasil.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.