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Casas da rua onde avião de Roger Agnelli caiu são interditadas em SP

Além de 2 interdições, moradores de 3 casas deixaram suas casas. Corpos do empresário e família foram enterrados na noite de domingo.

Moradores de cinco residências da rua Frei Machado onde um monomotor com sete pessoas caiu na Casa Verde, Zona Norte de São Paulo, no sábado (19), deixaram suas casas. A casa atingida pelo avião e a vizinha foram interditadas pela Defesa Civil e moradores de mais três casas deixaram os imóveis por precaução, segundo o Bom Dia São Paulo.

Morreram no acidente Agnelli, ex-presidente da Vale, Andrea Agnelli, sua mulher, Anna Carolina e João Agnelli, seus filhos, Parris Bittencourt, marido de Anna, Carolina Marques, namorada de João, e o piloto, Paulo Roberto Bau.  A presidente Dilma Rousseff e a Vale lamentaram a morte do empresário por meio de notas.

A aeronave entrou na garagem da casa de três andares e a explosão comprometeu boa parte da estrutura e ainda queimou três carros que estavam dentro e dois que estava fora do imóvel. Os moradores conseguiram escapar pelos fundos. A casa vizinha também foi atingida. A rua Frei Machado fica a cerca de 500 metros da cabeceira 12 do Campo de Marte.

O anque do avião estava cheio, o fogo se espalhou rapidamente e muito combustível vazou pela rua.”Era possível ver querosene descendo por duas sarjetas queimando tudo. Você pode ver que tem plantas os postes, tudo queimado”, disse Toni Sargologos, 46, morador da rua.

Uma mulher que fechava o portão de uma casa vizinha ao imóvel atingido ficou levemente ferida e foi levada ao Pronto-Socorro da Santa Casa, na região central da cidade, e teve alta no sábado.

Um vizinho da residência afirmou ter visto o avião voando muito baixo, de forma estranha. Pouco depois, ouviu um estrondo. “Na casa tinha cinco pessoas que colocaram uma escada e saíram pelas portas dos fundos. Se não tivessem saído pelos fundos tinham sido queimados juntos”, disse Toni. Ele conta que saiu de sua casa para prestar socorro, mas foi impedido por causa do fogo que atingiu árvores e veículos na via.

A aeronave seguia do Campo de Marte às 15h20 deste sábado (19) com destino ao aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro.

O enterro dos corpos do empresário Roger Agnelli, ex-presidente da mineradora Vale, sua mulher Andrea, os filhos Anna Carolina e João e o genro, Parris Bittencourt, foi realizado no cemitério Gethsêmani, na Zona Sul de São Paulo, na tarde deste domingo (20). Eles morreram na queda do monomotor que atingiu uma casa no bairro da Casa Verde, na Zona Norte da capital paulista.

Os corpos da namorada de João, Carolina Marques,e o piloto Paulo Roberto Bau serão enterrados no interior de São Paulo.

Peritos trabalham no local da queda do avião do ex-presidente da Vale Roger Agnelli em São Paulo (Foto: Mario Ângelo/Sigmapress/Estadão Conteúdo)
Experimental

A aeronave era norte-americana e voava no Brasil de forma experimental – ou seja, em teste para verificação de critérios de segurança e operação.

O modelo CA-9, da norte-americana Comp Air Aviation, de prefixo PR-ZRA, não tinha nenhuma caixa-preta, caixa de voz e de dados, segundo a Força Aérea Brasileira. Por ser um monomotor e estar em caráter experimental, os dispositivos não são necessários, conforme a legislação brasileira, para este modelo de aeronave.

O modelo foi comprado por Agnelli e pertencia a ele desde dezembro de 2012, conforme os dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). O modelo estava com a documentação em dia e tinha capacidade para até 3.900 kg e 7 pessoas (incluindo o piloto). Ele é feito de fibra de carbono, tem asa alta e trem de pouso fixo.

No site da companhia consta a informação de que a aeronave ainda não tem data para certificação nos Estados Unidos. “Aeronave não certificada, voando em caráter experimental, não possui um nível de segurança confirmado para estar voando, é como se estivesse em teste, por conta e risco do proprietário”, explica o comandante Carlos Camacho, que atua na área de segurança operacional na aviação civil.

“Toda aeronave voando representa um risco, mas uma aeronave experimental ele é bem maior. É uma grande irresponsabilidade manter este tipo de quesito, deveriam ser criados ao menos critérios básicos para garantir a segurança de uma aeronave experimental, certificando-as e aprovando-as para voarem no país”, defende Camacho.

Bombeiros trabalham na área onde um avião monomotor caiu em uma casa no bairro da Casa Verde, em São Paulo, na tarde deste sábado (19) (Foto: Nelson Almeida/AFP)

‘Risco’
O advogado Augusto Fonseca da Costa perdeu o filho em janeiro de 2015 em queda de aeronave experimental em Toledo, no Paraná. Ele criou a Associação Brasileira de Vítimas da Aviação Civil, defendendo uma campanha contra a aviação experimental no país.

“Isso é uma irregularidade e iresponsabilidade absurda da Anac ao enquadrar aeronaves como experimentais para se furtar a critérios de segurança. Isso é uma bagunça total. Vários tipos de aeronaves de teste estão voando por aí no país sem critérios. São protótipos de laboratório, em fase de teste, que são colocados aos milhares no mercado, representando um risco ao consumidor”, afirma Augusto da Costa.

“Quem compra lê que é experimental mas não tem ideia do que isso significa, não sabe o que é. São produtos sem regras que matam pessoas todos os dias, foi o que matou meu filho”, defende o advogado.

O G1 questionou a Anac os critérios para a liberação de uma aeronave experimental e o prazo para a certificação, mas até a publicação desta reportagem não recebeu posicionamento. A reportagem telefonou para a agência várias vezes e também mandou e-mails.

No site da Anac consta a informação de que, para a homologação do avião como experimental, será feita uma vistoria técnica após um processo de análise. Para que seja expedida a matrícula e permitido o voo, é necessário uma apólice de seguro.

Neste domingo, investigadores da Força Aérea voltaram ao local da tragédia para coletarem novos indícios e buscarem imagens que podem ajudar a levar a fatores que contribuíram para o acidente.

“A perícia encontrou um alto grau de destruição, um nível de destruição muito alto”, afirma o coronel Madison Almeida do Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa) 4, órgão subordinado ao Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), que responde pela área de São Paulo.

A aeronave decolou às 15h20 da cabeceira 12 de Campo de Marte e seguia com destino ao Santos Dumont, no Rio de Janeiro, caindo três minutos após a decolagem. Não há informações ainda sobre se o piloto alertou à torre do Campo de Marte após a decolagem que havia pane.

Outro fator analisado pelos investigadores é o histórico do piloto Paulo Roberto Bau, de 33 anos. Ele teria que ter uma habilitação específica para o modelo que era de Agnelli. A investigação também quer saber se o piloto reportou panes nos voos anteriores ou se a aeronave passou por alguma manutenção recente.

O major Henguel Ricardo Pereira, que coordenou a ação do Corpo de Bombeiros no resgate, afirmou que os corpos estavam “bem prejudicados e mutilados”. “No local, a aeronave foi destroçada pelo choque e os corpos estavam multilados e queimados”, disse ele. Foram recolhidos sete crânios no local.

Empresário
O empresário de 56 anos foi presidente da Vale de julho de 2001 a maio de 2011, quando foi substituído pelo atual presidente da mineradora, Murilo Ferreira. Sob o comando de Roger Agnelli, a Vale se expandiu internacionalmente e se consolidou como a maior produtora global de minério de ferro e a segunda maior mineradora do mundo.

Após deixar a Vale, fundou a AGN Participações, uma empresa de logística e mineração. Desde 2012, estava à frente da B&A Mineração, joint venture da AGN com o BTG Pactual com projetos de exploração de fertilizantes, minério de ferro e cobre em Belé (Pará) e em La serena, no Chile.

Além de presidir a Vale, Agnelli integrou o conselho de administração de grandes empresas brasileiras como Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), Latasa, Suzano Petroquímica e Petrobras. Agnelli passou a integrar o Conselho da Petrobras no início do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e saiu em 2007.

Agnelli chegou ao cargo mais alto da Vale em 2001, após 19 anos como executivo do Bradesco, um dos acionistas controladores da Vale. Na gigante da mineração, implementou uma cultura de meritocracia e era conhecido por sua disciplina e temperamento forte, destaca a agência Reuters.

Durante sua gestão, a Vale intensificou sua estratégia de expansão global, comprou a mineradora canadense Inco, se tornando a segunda maior produtora de níquel do mundo, e também a Fosfértil, que fez da empresa um importante player no mercado de fertilizantes. Sob o comando de Agnelli, as ações da mineradora registraram uma valorização de 1.583% e a Vale se transformou a Vale na maior exportadora brasileira na maior parte da última década.

A saída do executivo da Vale em 2011 foi conturbada,  em meio a especulações de que sua saída foi uma exigência do governo da presidente Dilma Rousseff.

A campanha pela saída de Agnelli começou ainda em 2008, durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, quando, durante a crise econômica, a Vale demitiu quase 2 mil trabalhadores.
Roger Agnelli era formado em Economia pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e desenvolveu sua carreira profissional no Grupo Bradesco, onde trabalhou de 1981 a 2001.
Antes de ser escolhido como presidente da Vale, Agnelli foi presidente do Conselho de Administração da empresa.

Em 2012, Roger Agnelli foi escolhido pela “Harvard Business Review” e o Insead como o 4º CEO com melhor desempenho no mundo e único brasileiro no ranking. Em nota, o grupo WPP, para o qual Roger Agnelli trabalhava como diretor independente até então, também divulgou nota expressando “profundas condolências sobre a trágica perda”.

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