Rodrigo Machado, de 44 anos, embarca nesta sexta-feira (23) para Málaga, na Espanha, onde vai disputar provas de natação. ‘Existe vida após um transplante’, diz.
Quatro anos após fazer um transplante de medula óssea para tratar de uma leucemia, Rodrigo Machado, de 44 anos, embarca, nesta sexta-feira (23) para participar dos Jogos Mundiais dos Transplantados em Málaga, na Espanha. Ele é o único brasileiro a competir na modalidade de natação.
“A expectativa principal dos jogos é incentivar a doação de órgãos e mostrar que existe vida após um transplante. É servir de exemplo para muitas pessoas que estão em um hospital que há luz no fim do túnel e que tem que seguir lutando e acreditar e fazer tudo o que precisa ser feito.”
Liberado pela médica hematologista desde abril para praticar atividades físicas, o bancário decidiu que se inscreveria na olímpiada e voltaria a treinar natação, esporte que se dedicou entre os 13 e 18 anos. Ex-federado, Rodrigo procurou o coordenador do Ginásio Poliesportivo Milton Feijão de São Caetano do Sul, Walter Luis Rodrigues Júnior, para voltar a treinar.
Com apenas oito semanas para o início dos jogos, Walter assumiu os treinos de Rodrigo e elaborou uma rotina de preparação. Exercícios diários, alimentação equilibrada e muita dedicação é a aposta do treinador para uma boa competição.
O desafio é mútuo. Há oito anos longe das piscinas, Rodrigo teve que se dedicar em dobro para recuperar o ritmo, técnica e bons tempos que tinha quando ainda era adolescente. Já Walter, precisou estudar e entender os limites do novo atleta.
“Se na minha carreira toda eu tivesse tido dez atletas como ele, eu seria um técnico realizado. Eu tenho que estar atento, se ele chega ofegante, se ele está vermelho são atenções que eu preciso ter. Eu tenho que respeitar os limites dele, mas eu não posso deixar muito aberto, porque ele é folgado e vai querer descansar muito. A rédea é curta”, conta o treinador.
Rodrigo vai competir em cinco modalidades: 50m e 100m costas; 100m e 200m livre e 200m medley. “Cinco provas que é o máximo que pode participar. Eu quero competir. Ser primeiro ou último faz parte, mas eu quero ser mais competitivo, me sentir mais fortalecido.”
Com 17 esportes diferentes, os Jogos Mundiais dos Transplantados acontecem anualmente e é uma olímpiada em que os competidores devem ter tido algum tipo de transplante. “É uma forma de integrar todas as pessoas que passaram por doenças graves. É como a gente fala, é a celebração de uma segunda oportunidade. Nós todos transplantados estamos tendo uma segunda chance de continuar vivendo e vivendo bem”, define Rodrigo.
Diagnóstico
Dois meses após participar de uma meia maratona em São Paulo, Rodrigo começou a sentir fraqueza, cansaço excessivo e fadiga. Ao procurar um médico e fazer exames, foi diagnosticado em novembro de 2012 com leucemia.
Na semana seguinte ao diagnóstico, Rodrigo foi transferido para o Instituto Brasileiro De Controle Do Cancer e iniciou um ciclo com seis quimioterapias, transplante de medula e isolamento. Durante o tratamento, exercícios físicos com um professor particular permitiram que ele recuperasse parte da massa muscular que perdeu durante as internações. “Eu queria chegar mais forte para o transplante”, explica o bancário.
Os treinamentos continuaram e “com trabalho progressivo”, em 2015, competiu sua segunda meia maratona e voltou ao trabalho, que estava afastado de 2012. Mas, no início de 2016, ele foi obrigado a dar outra pausa. A leucemia se manifestou novamente, mas, dessa vez, em forma de um tumor no intestino.
Com queda de imunidade, foram três meses internado, uma cirurgia para fazer a biópsia, mais ciclos de quimioterapia e um tratamento “bem mais complexo”. Com a recaída na doença, Rodrigo precisou pedir outra licença médica no trabalho, nas atividades físicas, ficou recluso e teve de redobrar os cuidados com possíveis infecções.
“O esporte ajudou muito o Rodrigo ao longo do tratamento. Até nos momentos mais críticos, ele nunca ficou com a massa muscular muito debilitada e isso ajudou muito”, acredita a hematologista que acompanha o bancário desde o início, Maria Cristina Macedo.
‘Três pilares do paciente’
Para passar pela doença, Rodrigo assumiu algumas responsabilidades. Além de coragem e muita disciplina com o tratamento, estabeleceu os “três pilares do paciente”. Para ele, o tratamento é divido entre o que compete a Deus e ao enfermo.
“Acreditar e ter fé no tratamento; se alimentar bem e praticar atividades físicas é o que nós podemos fazer, nós temos que nos movimentar”, explica.