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Atenção e cuidado com a água durante a estiagem no DF

Especialistas veem como improvável crise hídrica como a que ocorreu entre 2016 e 2018, no DF. Eles destacam, entretanto, que é preciso manter o alerta ligado. Obras de Corumbá IV, que podem aliviar o problema, estão mais perto da conclusão

(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press).

A previsão de uma estiagem longa em todo o país, neste ano, acendeu o alerta para uma iminente crise hídrica nacional. O problema que atinge reservatórios de hidrelétricas terá impacto direto no bolso do brasileiro com o aumento da conta de energia, além da sombra de possíveis racionamentos. No Distrito Federal, a questão evoca um passado recente em que a falta de água tornou-se em um drama diário para milhares de moradores da capital. Para especialistas, o cenário visto entre 2016 e 2018 (leia Memória) não deve se repetir, mas é preciso tomar cuidado.

Vendido como a solução, ao menos temporária, para o problema da crise hídrica no Distrito Federal desde o começo dos anos 2000, o Sistema Corumbá IV segue apenas como uma promessa. A obra, planejada para ampliar e reforçar o abastecimento de cidades do Entorno e de regiões administrativas do DF, é responsabilidade das companhias de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) e de Saneamento de Goiás (Saneago) e está 97% concluída. Os dois órgãos asseguram que o processo está em etapa final. A Caesb informou que a estimativa é que a entrega ocorra no segundo semestre deste ano.

Ainda que o DF, atualmente, conte com reservatórios próximos da capacidade total, Corumbá IV poderia aliviar o impacto da estiagem deste ano e garantir um período maior de tranquilidade, explica o especialista em recursos hídricos da Universidade de Brasília (UnB) Sérgio Koide. “Se ficar pronto até setembro e outubro, dará uma folga porque é o período crítico. Se for mais para o fim do ano, já não terá impacto para 2021”, avalia.

O nível alto dos reservatórios, considera o especialista, faz com que o Distrito Federal tenha pouca probabilidade de enfrentar problemas mais graves em 2021, diferentemente de outros locais, como São Paulo. Ele explica que, no entanto, épocas de estiagem costumam refletir em períodos maiores, o que pode causar uma nova crise em 2022. “Seria fundamental que entrasse em funcionamento Corumbá IV para evitar que tivéssemos que racionar, principalmente no setor agrícola”, avalia.

Segundo a Caesb, a produção inicial de Corumbá IV será de 1.400 l/s de água potável, a serem divididos entre Caesb e Saneago. “Atualmente a obra se encontra 97% concluída, com as estruturas operadas pela Caesb eletrificadas (o que ocorreu na última semana), liberando-as, assim, para a realização de testes operacionais. Porém, ainda está pendente a eletrificação da captação (feita pela Saneago)”, diz nota oficial da companhia.

A Saneago informou que restam como pendências a “emissão da Licença de Operação da Linha de Transmissão 138kV (Ibama) e o comissionamento da Estação de Tratamento de Água”. “No que se refere à linha de transmissão, todas as torres foram executadas e os cabos já foram lançados, bem como comissionados pela Enel.”

Segurança hídrica

A situação no Distrito Federal é melhor do que em outras áreas do país pelas chuvas registradas nos primeiros meses, segundo a Agência Reguladora de águas, Energia e Saneamento do Distrito Federal (Adasa). “Essa bolha úmida que envolveu o DF teve um maior pronunciamento no mês de fevereiro passado, quando chuvas muito acima da média mensal precipitaram sobre o DF.”

Segundo a Adasa, o nível dos reservatórios reforça a condição de segurança hídrica no período de estiagem de 2021 para todos os sistemas interligados abastecidos pelo Descoberto e Santa Maria. Regiões que dependem de mananciais menores, que não são interligados aos sistemas principais, devem sofrer maior pressão. “Para garantir maior segurança hídrica às populações abastecidas por esses sistemas isolados, a Adasa estabelece regras de uso da água nos rios das respectivas bacias hidrográficas, de modo a evitar conflitos entre as demandas para irrigação e as demandas para abastecimento humano”, reforça a Adasa, em nota.

Em linha semelhante, a Caesb frisa que o monitoramento das pequenas captações, até então, indica que este ano poderá ser de boas vazões. “Dependendo do comportamento durante o período de seca e da recuperação de cada um desses reservatórios no período chuvoso anterior, a Caesb pode realizar modificações na forma de utilização dos mananciais, preservando aquele que esteja em situação de maior vulnerabilidade”, ressalva.

Preocupação

Para quem sofreu com o racionamento e as dificuldades da crise hídrica de 2016 a 2018, o medo de que o problema retome apareceu assim que as notícias no cenário nacional mostraram a possibilidade de longa estiagem. Nas regiões carentes, o temor é maior, sobretudo porque o impacto da crise causada pela covid-19 também continua causando sofrimento às famílias.

O contador José Valmir dos Santos, 47 anos, é morador do Sol Nascente e lembra as dificuldades enfrentadas na crise anterior. “Às vezes, você precisava tomar banho, mas não podia, porque tinha que reservar água, nos baldes e nas latas, para fazer comida, lavar alguma coisa. Era uma situação precária”, conta. “Aqui, essa preocupação continua. Muita gente não tem caixa d’água. Então, um problema desses faz muito estrago.”

Ele acredita que, hoje, a situação seria mais dramática. “A crise econômica teve impacto violento e direto em comunidades como a nossa. O aumento do desemprego foi gigantesco. Tudo aumentando, subindo a conta de água e de luz, então isso pesa demais para nós.”

Palavra de especialista

Fiscalização

“Em primeiro lugar, eu penso que a Adasa está controlando bastante bem a distribuição das águas das duas represas. Quando o Descoberto baixa, Santa Maria ajuda e isso contribui para manter o nível no reservatório. Mas essa informação do nível pode ser incompleta, pelo tempo que os sensores têm e o assoreamento que pode ter ocorrido lá. O que venho observando é que, nos últimos nove anos, pela primeira vez, o mês de maio foi zero água. Isso significa que todos os cuidados devem ser observados, porque as mudanças climáticas e o secamento do planeta em muitas áreas fazem com que a gente tenha que tomar providências. Para isso, é preciso reforçar toda a fiscalização e o controle sobre áreas que mais gastam água, como as as áreas nobres e todo sistema semi-industrial e de grandes serviços. É preciso ter uma fiscalização e uma orientação mais cuidadosas.”

Eugênio Giovenardi, ecossociólogo

Memória

Racionamento e índices baixos

A Adasa declarou estado de alerta em 16 de setembro de 2016, o que já implicou em uma série de medidas, como a redução na pressão nas redes de distribuição. Entre 16 de janeiro de 2017 e 14 de junho de 2018, o Distrito Federal passou por um racionamento de água. À época, as regiões administrativas ficam, no mínimo, 24 horas sem água a cada seis dias. O reservatório do Descoberto chegou a 5,3% da capacidade total e o de Santa Maria (foto) marcou 21,9%. Foram os piores índices da história.

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