Lista Unida fez história ao recomendar Gantz, sendo a primeira vez desde 1992 que uma lista árabe indica um candidato israelense
Jerusalém — Após a primeira rodada de consultas com o presidente de Israel, Reuven Rivlin, o centrista Benny Gantz, vencedor do voto popular nas eleições da semana passada, obteve o apoio da Lista Unida, que agrupa os partidos árabes, superando assim o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em número de recomendações para tentar formar governo.
Neste domingo, as cinco listas mais votadas nas últimas eleições se reuniram com o presidente em sua residência oficial, em Jerusalém, para dar suas recomendações para primeiro-ministro.
As consultas, que foram transmitidas ao vivo para todo o país, começaram com uma reunião com parlamentares da coalizão centrista Azul e Branco, liderada por Gantz, que obteve 33 das 120 cadeiras, duas a mais que o Likud, de Netanyahu.
Moshe Ya’alon, que liderou a delegação do partido na reunião com Rivlin, recomendou, como esperado, Gantz como primeiro-ministro e reiterou a vontade de seu partido de formar um governo de unidade “nacional e liberal”, com “todos os partidos sionistas, incluindo o Likud”, embora “sem extremistas”.
Depois foi a vez do Likud, cuja delegação foi chefiada pelo ministro do Turismo, Yariv Levin, recomendando que o atual premier tente formar um novo governo.
Durante seu encontro com Rivlin, Levin reiterou que sua legenda e o restante dos partidos de direita e ultra-ortodoxos manterão uma posição conjunta e negociarão como bloco e, da mesma forma que feita por Netanyahu no dia seguinte ao pleito, chamou a Gantz que se junte a eles e formem um governo “estável”, que seja “amplo e de união nacional”.
A Lista Unida, que conquistou 13 cadeiras nas eleições, fez história ao recomendar Gantz, sendo a primeira vez desde 1992 que uma lista árabe indica um candidato israelense para o cargo.
“Nos transformaram em um grupo ilegítimo para a política israelense, e como eles querem nos substituir, tomaremos nosso lugar”, disse o presidente Ayman Odeh, líder da lista, explicando sua decisão argumentando, que “o mais importante é tirar Netanyahu do poder”.
Antes dessa decisão, o atual primeiro-ministro respondeu com um vídeo onde aponta que há duas possibilidades de formação do governo, sendo uma de gabinete de união nacional, presumivelmente chefiado por ele, e a outra um governo de minoria, liderado por Gantz e com o apoio dos partidos árabes, que Netanyahu acredita “rejeitar Israel como um Estado judeu e democrático e glorifica os terroristas que assassinam soldados e cidadãos”.
Depois foi a vez do Shas, partido ultra-ortodoxo liderado por Aryeh Deri, que conseguiu nove cadeiras e que ratificou o acordo estabelecido na semana passada com o bloco de partidos de direita e ultra-ortodoxos e explicou que sua legenda, da mesma forma que o restante do tal bloco, recomenda Netanyahu como primeiro-ministro.
Por último, o partido Israel Nosso Lar, liderado por Avigdor Lieberman e que obteve 8 assentos, esteve representando pelo parlamentar Oded Forer, e informou que seu presidente não recomendaria nenhum candidato e reiterou seu desejo de um governo de unidade que inclua o Azul e Branco e o Likud.
Essa decisão se deve, segundo Lieberman, a impossibilidade de recomendar Netanyahu, um aliado dos partidos ultra-ortodoxos aos quais sua formação se opõe, ou Gantz, que obteve a recomendação da Lista Unida Árabe, à qual o líder da Israel Nosso Lar é considerado um “inimigo”.
Com a recomendação da Lista Unida, Gantz chega ao número de 46 parlamentares que o apoiam para tentar formar governo, enquanto, neste momento, o Likud tem 40.
Amanhã, outros quatro partidos com cadeiras na Knesset (Parlamento) que darão suas respectivas recomendações a Rivlin.
Enquanto o partido ultra-ortodoxo Judaísmo Unido pela Torá (8 cadeiras) e o extrema-direita Yamina (7) prometeram recomendar Netanyahu, os outros dois, Trabalhismo-Guesher (6 cadeiras) e União Democrática (5), asseguraram que indicarão Gantz.
Se as expectativas se confirmarem, Gantz obteria um total de 57 recomendações, e Netanyahu, 55, com isso, seguindo a lógica histórica de recomendar quem tiver mais indicações, Rivlin recomendaria ao líder da Azul e Branco a formação do governo.
A partir desse momento, Benny Gantz teria 28 dias para fazê-lo, com a possibilidade de o presidente lhe conceder uma prorrogação de 14 dias se ele não obtiver êxito.
Se falhasse, seria a vez de Netanyahu, que teria o mesmo tempo do rival.
Durante suas consultas com os partidos, Rivlin deixou claro hoje que sua intenção é a formação de um governo de unidade “estável” entre Azul e Branco e Likud, um cenário que continua sendo o mais provável, embora ainda seja preciso definir quem o lideraria e se teria ou não a participação de Netanyahu, que tem programado uma audiência com o procurador-geral do Estado no próximo 3 de outubro, quando uma acusação contra ele por corrupção poderia ser formalizada.