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Apesar do fim da recessão, cena política mantém incerteza da economia

Desde o fim da recessão, em apenas 10 dos 33 meses do período, indicador de incerteza da FGV foi positivo

Jair Bolsonaro e Ministro da Economia, Paulo Guedes: de acordo com FGV, sinais fiscais são bons mas há incerteza que vem da política (Sergio Moraes/Reuters)

Rio de Janeiro — Desde o fim da recessão, a partir de janeiro de 2017, em apenas 10 dos 33 meses do período, o Indicador de Incerteza da Economia (IIE-Br), calculado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), ficou abaixo do nível de 110 pontos, nível acima do qual a incerteza é considerada elevada.

Com o fim do período recessivo, era de se esperar uma redução na incerteza, mas as turbulências políticas vêm impedindo essa acomodação, mostra uma desagregação inédita do IIE-Br, obtida pelo jornal ‘O Estado de S. Paulo’.

Segundo Fernando Veloso, pesquisador do Ibre/FGV, quando atingiu seu pico, em setembro de 2015 (136,8 pontos), tanto incertezas relacionadas à crise fiscal quanto as associadas a turbulências políticas estavam elevadas no IIE-Br. A partir do fim de 2016, as preocupações com a crise fiscal tiveram um alívio, mas as turbulências políticas seguiram no radar, mesmo após a eleição e a posse do presidente Jair Bolsonaro.

“Tem alguma evidência de que a incerteza fiscal, com a aprovação do teto de gastos (em 2016), e o avanço da Previdência (neste ano) diminuíram, mas está muito alta ainda. Agora, a incerteza de natureza política, subiu e, apesar de altos e baixos, tem se mantido num nível muito alto. Se fosse só o fator fiscal, era para a incerteza ter caído um pouco, mas a política não deixa”, afirmou Veloso.

Para sustentar essa avaliação, os pesquisadores do Ibre/FGV desagregaram em dois o IIE-Br Mídia, o subíndice que mede menções a expressões associadas à incerteza em notícias publicadas na imprensa.

Sinais dúbios

Um dos desagregados mede as menções referentes a incertezas políticas; o outro, referências a incertezas fiscais. No acumulado de janeiro de 2017 a agosto deste ano, o agregado das incertezas políticas caiu apenas 0,2% (para 121,6 pontos), enquanto o agregado das incertezas fiscais encolheu em 5,9% (para 115,2 pontos).

No acumulado de 2019 até agosto, o primeiro agregado acumula alta de 10%, enquanto o subíndice da incerteza fiscal avança 2,2%.

A incerteza política já tinha subido nas eleições de outubro do ano passado, lembrou Veloso. “Na época das eleições houve uma grande polarização. Dependendo de quem ganhasse as eleições, políticas seriam radicalmente diferentes”, afirmou o pesquisador.

A questão é que o quadro não melhorou com a eleição de Bolsonaro, conforme os dados desagregados do IIE-Br. “Mesmo agora, apesar de todo o comprometimento do (ministro da Economia) Paulo Guedes e da equipe dele com reformas liberalizantes, vemos sinais dúbios, não dele, mas de Bolsonaro e de outras áreas do governo”, disse Veloso.

O estilo do presidente, que usa as redes sociais para se comunicar diretamente com os seus apoiadores e dá declarações polêmicas com frequência, também contribui para elevar a incerteza política. “É da natureza de Bolsonaro fazer isso. O estilo político dele é esse. Pode ser até conveniente para o perfil político dele, mas, para a economia, contribui para que a incerteza fique elevada”, afirmou Veloso, lembrando que algo semelhante ocorreu nos Estados Unidos.

“A incerteza americana aumentou muito com o (presidente Donald) Trump, com o uso do Twitter, as declarações, as idas e vindas na disputa comercial com a China.”

Para Veloso, as turbulências políticas alimentadas pelo próprio governo e pelo presidente Bolsonaro têm efeito adicional sobre a incerteza na economia.

 

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