Índice inflacionário medido em março é o mais alto desde o início do Plano Real, em 1994. Inquilinos temem dificuldade em negociar reajuste com proprietários
Apesar dos indícios de desaceleração na economia brasileira em meio ao agravamento da pandemia no país, a inflação não dá trégua. E quem está com o contrato de aluguel vencendo em abril precisará se preparar para negociar com o dono do imóvel. A correção poderá superar os 30%, principalmente, por conta do dólar valorizado e da alta dos preços dos combustíveis que estão fazendo a inflação do aluguel disparar.
Conforme dados do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) divulgados ontem, o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) , utilizado para a correção do aluguel, teve alta de 2,94% em março, acelerando em relação à variação de 2,53% de fevereiro. O resultado ficou abaixo da mediana das estimativas do mercado, de 3,02%, mas foi o maior para o mês de março desde 1995, quando a taxa foi de 1,12%.
“Fico muito triste”
“Esse IGP-M de março é o mais elevado desde o início do Plano Real”, afirmou o economista André Braz, coordenador do Índice de Preços do FGV Ibre. O plano de estabilização de preços foi lançado em julho de 2014. No ano, o IGP-M acumulou elevação de 8,26% e, em 12 meses, chegou a 31,1%, o maior patamar desde maio de 2003, segundo Braz. O indicador apresentou aceleração generalizada em seus componentes.
Para Luiza Martins, atriz de 27 anos, qualquer reajuste no valor de seu aluguel, mesmo que pequeno, trará problemas para a vida financeira dela. E, como não teve sucesso ao tentar negociar com o proprietário no ano passado, ela já pensa em procurar outro apartamento para morar. “Com a pandemia, fiquei praticamente sem trabalho. Comecei a vender bolos e doces, mas, mesmo assim, ainda não consigo completar meu salário. Pago minhas contas com dinheiro contado”, afirmou. “Se aumentar muito, não vou ter condições. Vou ter que procurar outro lugar. E, no meio da pandemia, isso está ainda mais complicado.”, lamentou.
A situação é a mesma para o motorista Gilmar Couto, de 52 anos. Pai de três filhos, ele e a esposa pagam o aluguel de uma casa em Brasília. Com a pandemia, a esposa de Gilmar, Maria, perdeu grande parte das clientes como manicure. Os dois também temem não conseguir pagar o valor do aluguel reajustado se a correção vier acima de 30%. “A corretora que aluga aqui pra gente sempre aumenta o preço, nunca teve uma exceção. Nosso contrato vai renovar agora em abril. Se aumentarem de novo, vou ter que procurar um lugar menor. Já não moramos em um lugar grande, e meus filhos terão que se apertar ainda mais. Eu fico muito triste com isso.”, contou o motorista.
De acordo com Braz, a alta do IGP-M de março recebeu influências diversas. O avanço no índice mostra que a alta das matérias-primas, mesmo em desaceleração, ainda desafia a cadeia produtiva, de modo a provocar o aumento nos preços de bens intermediários e de bens finais. Os combustíveis também responderam “por parte importante da aceleração de março do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) do Índice de Preços ao Consumidor (IPC)”, que antecipa a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e deve encerrar março com alta de 1,1%.