Segundo MP, participantes tinham que levar pelo menos 3 menores. Investigação descobriu rede de pedofilia na região de Araçatuba (SP).
A denúncia do Ministério Público de Birigui (SP) sobre uma rede de pedofilia que envolve moradores de várias cidades da região de Araçatuba (SP) mostra que vários suspeitos chegaram a promover festas em casas e chácaras da região para atrair os menores. O inquérito aponta que numa dessas festas cada convidado tinha que levar pelo menos três adolescentes, como exigência para participar do encontro.
A mãe dele diz que o homem se aproximou da família e fez amizade com os amigos do filho. “Aí ele começou a ir em casa, pegou amizade, parecia uma pessoa boa. Muito bonzinho mesmo, mas jamais eu achava que ele tinha coragem de fazer uma coisa dessa”, diz a mãe.
Ela diz que só descobriu o abuso depois do alerta de uma amiga. A mulher, que também prefere não se identificar, conta que desconfiou do comportamento do suspeito, que começou a dar presentes caros para o adolescente. “Eu peguei, conversei com a criança e a criança abriu todo o jogo, que estava sendo assediado, que o cara que tinha dado o celular, que tinha dado o boné, o pedófilo passava lá e levava ele para outros lugares, para poder assediar”, diz.
Ela contou tudo para a família e procurou a promotoria. As investigações duraram mais de um ano e apontaram a existência de uma rede de pedofilia. O Ministério Público encontrou várias vítimas com idades entre 10 e 17 anos.
Os acusados usavam as redes sociais para se aproximar dos menores. A Justiça teve acesso a uma conversa entre dois dos suspeitos. Por telefone eles falavam sobre os adolescentes e trocavam informações de novas possíveis vítimas. Segundo o MP, na conversa estão um aposentado, de 69 anos, e um homem, de 30 anos, suspeitos de participar da rede.
Aposentado: Localizou no face (facebook)?
Homem: Ainda não, eu estou entrando agora para ver.
Aposentado: Ah tá. Muito bom, né?
Homem: Você tem ele?
Aposentado: Não, eu pedi para adicionar, não retornou. Muito bom, né?
Homem: Ótimo, né? A foto é de enlouquecer, né?
Em outra gravação, o aposentado conversa com um investigado, que não foi preso. Eles combinam festas com a presença de menores.
Suspeito: Vou por gasolina para ir buscar os meninos. Marquei com o…, liguei pra ele.
Aposentado: Hã.
Suspeito: Aí falei pra ele escolher uns bem bonitinhos.
Aposentado: Essa chácara onde é?
Suspeito: É ali perto do Colinas ali, aquela..
Aposentado: Eu sei, eu sei.
Suspeito: É por ali, Aí eu te explico depois
De acordo com a ação, os suspeitos chegaram a gravar um encontro com um dos meninos. Um menor, que também foi vítima dos pedófilos, disse que o suspeito trabalhava com o avô dele num sítio e foi lá que os abusos começaram. “Ele falava assim: seu vô quer que eu vou levar você pra ajudar salgar o coxo. Peguei e fui, aí no meio do caminho ele correu atrás de mim aí ele começou a tirar minha roupa e abusar de mim”, diz o menor.
Os abusos continuaram por cerca de um ano até que a mãe do menor começou a notar um comportamento mais agressivo no filho. “Eu percebi que ele não foi para escola, fui atrás e peguei ele, mas acho que na hora que ele ia cometer o ato ele me viu”, diz.
Até agora cinco pessoas foram presas acusadas de pedofilia, estupro e corrupção de menores. Outras três respondem ao processo em liberdade apontadas como integrantes da organização. Segundo o Ministério Público um dos homens que está preso confessou em depoimento que pagava para fazer sexo com os adolescentes.
Além de pedofilia, estupro e corrupção de menores, os acusados também respondem por associação criminosa e aliciamento de menores. As penas, para cada crime, vão de um a 15 anos de prisão.
O promotor que fez a denúncia não quis dar entrevista porque o caso corre em segredo de Justiça. O processo, que já foi aceito pelo juiz, ainda não tem data para ser julgado. A TV TEM procurou os advogados dos dois acusados que aparecem na gravação e estão presos. Eles negam as acusações do MP. Quem confessou os crimes para a polícia foi o aposentado e a defesa dele negou as acusações do MP e disse que vai entrar com pedido de revogação da prisão e habeas corpus para que o cliente seja solto. O advogado do outro suspeito disse que ainda estuda a forma como vai pedir a soltura do cliente e também negou as acusações.