26.5 C
Brasília
HomeBrasíliaFiéis de Formosa tentam recuperar confiança na Igreja após Operação Caifás

Fiéis de Formosa tentam recuperar confiança na Igreja após Operação Caifás

Uma semana após escândalo de corrupção, católicos da cidade de Goiás se dividem entre o silêncio e a revolta, mas não falam em abandonar a fé

Maria Vaz, ao lado do marido, Valdemário: “Temos que pedir ao Senhor que nos recupere e nos tire desse sofrimento”
(foto: Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press)

“As pessoas ainda estão com o sentimento muito à flor da pele. Depois da operação policial, passaram a despejar raiva em cima de nós.” As palavras são de uma funcionária da Catedral de Formosa (GO), que pediu para não ter o nome divulgado. A operação à qual ela se refere é a Caifás, conduzida pelo Ministério Público de Goiás (GO) e que culminou com a prisão do bispo da cidade, dom José Ronaldo Ribeiro, e mais oito pessoas, sendo outros cinco sacredotes. “Até quem não está envolvido tem sofrido as penalidades”, completa a mulher.

Uma semana depois que a operação foi deflagrada, os fiéis católicos do município goiano buscam recuperar a confiança na instituição. Ainda atônitos com o escândalo de corrupção, os moradores se dividem em grupos antagônicos. Parte prefere o silêncio. Outros mostram revolta. Alguns condenam. Mas nenhum fala em abandonar a Igreja. Sabem que ela também é vítima.

“A fé não se abala, mas essa situação não é algo compreensível. As pessoas erram, podem tropeçar em sua conduta”, explica a professora aposentada Neide Espíndola, 67 anos. O marido dela, o técnico em contabilidade aposentado Antônio Flávio Pessoa, 62, concorda. “Não é uma situação fácil de aceitar, mas quem somos nós para julgar?”

Os dois estavam entre os 700 fiéis que participaram, ontem, da celebração do Domingo de Ramos, que marca o início da semana santa na Igreja Católica. O céu estava fechado quando a procissão de Ramos começou, encurtando o trajeto. O bispo auxiliar de Brasília, dom José Aparecido Gonçalves de Almeida, designado pela Santa Sé para presidir as celebrações de Semana Santa na diocese de Formosa, pediu orações. O religioso garantiu aos fiéis que a Igreja retornará ao estado de “normalidade”.

Ressurreição

Os mais otimistas acreditam na ressurreição da Igreja em Formosa, assim como Cristo ressuscitou no domingo de Páscoa. “Regeneração” parece ser a palavra que define os desejos do fiéis. “Espero que a Igreja recupere sua moral. Mas as pessoas não podem crucificar os católicos. Somos tementes a Deus e não aos homens que lideram a Igreja”, pondera. O irmão dela, o motorista David Batista Teixeira, 56 anos, é menos esperançoso. “A corrupção que aconteceu nos deixa muito tristes e nos coloca em uma situação muito delicada. Agora, só resta rezar.”

O assunto permaneceu praticamente intocado na missa de domingo, mas surgiu perto do fim. “Assumo a administração da igreja com o intuito de correção e de volta à normalidade”, afirmou dom José Aparecido. Ele pediu ajuda aos fiéis. Repetiu trechos do discurso do papa Francisco, quando assumiu o Vaticano em 2013. “Conto com a oração de vocês.”

A dona de casa Maria Vaz Ribeiro, 68 anos, garante que vai atender a recomendação do líder religioso. “Temos que pedir ao Senhor que nos recupere e nos tire desse sofrimento. Não é protestando, prendendo e condenando que se livram a Igreja e o povo de Deus do mal e da calúnia. Só o amor de Cristo nos salva”, defende. Mas o marido dela, o lavrador Valdemário Ribeiro, 78 anos, cobrou respostas. “É uma dor muito grande, mas quem está envolvido deve ser responsabilizado.”

Veja Também