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Médico do Hospital das Clínicas é afastado suspeito de envolvimento em superfaturamento de implantes

Segundo polícia, ele orientava que pacientes procurassem a Justiça para conseguir marca-passo disponível, de graça, no SUS.

 

Uma apuração interna do Hospital das Clínicas concluiu que um médico da equipe de neurocirurgia desviava pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) para atendimento em seu próprio consultório. Ele indicava que os pacientes procurassem a Justiça para conseguir um aparelho que estava disponível, de graça, no sistema público.

O mesmo médico é investigado pela polícia e pelo Ministério Público. A suspeita é de que ele tenha ajudado a alimentar um esquema de superfaturamento na compra dos implantes cerebrais. Segundo apuração do SP1, Erich Fonoff está afastado de suas atividades no Hospital das Clínicas e não foi possível contato com ele nem em casa nem no consultório.

Hilda do Nascimento Martins é uma das 200 mil pessoas que sofrem de Parkinson no Brasil. Ela mora em Osasco, na Grande São Paulo, e precisou de um marca-passo cerebral para que os tremores causados pela doença desaparecessem.

Este equipamento é pouco maior que uma caixa de fósforo, pesa 100 gramas e emite uma corrente elétrica. Ele fica implantado no peito do paciente, por baixo da pele. Dois fios conectados com este aparelho são colocados em pontos do cérebro que, quando estimulados, melhoram os sintomas da doença.

Após três anos da implantação, a bateria do marca-passo acabou e Hilda pediu na Justiça para conseguir outro aparelho. Ela conta que o médico Erich Fonoff orientou o processo. “Não lembro direito, não consegui gravar muito bem, meu filho estava comigo. Ele falou que era mais rápido, mais fácil, para eu não desgastar muito, porque perdi muito peso, chacoalhava muito”, explica.

O médico é neurocirurgião do Hospital das Clínicas, professor livre-docente da Universidade de São Paulo (USP) e se apresenta como especialista no tratamento de Parkinson.

Aparelho é implantado por baixo da pele do paciente (Foto: TV Globo/Reprodução)
Aparelho é implantado por baixo da pele do paciente (Foto: TV Globo/Reprodução)

Segundo a Polícia e o Ministério Público Federal, o médico é suspeito de fazer parte de um esquema para desviar dinheiro da Saúde. A investigação começou em julho de 2016, com a operação Dopamina. O escândalo fez com que o próprio hospital criasse uma comissão interna para apurar a conduta do médico.

Sobre a atuação do neurocirurgião, o relatório da comissão aponta: “o paciente ingressava para tratar de sua doença buscando a excelência e notoriedade da instituição e Professor Doutor Erich Fonoff o atendia no SUS, posteriormente encaminhava ao seu consultório particular, emitia o laudo e, na sequência, ingressava com a ação judicial”.

Suspeita-se que o médico orientava os pacientes por lucrar com o esquema. Isso porque as fornecedoras cobravam mais caro quando a compra era de emergência. O preço chegava a variar até 20000%

O aparelho de Hilda, por exemplo, custou R$ 92.500,53 depois que a Justiça determinou que a Secretaria Estadual de Saúde de são Paulo comprasse em caráter de urgência.

O SP1 observou a planilha e identificou três faixas de preço:

  1. Até R$ 25 mil, quando se trata de doação do fabricante ou bolsa de pesquisa;
  2. Até R$ 40 mil, quando o aparelho é comprado com dinheiro do orçamento do próprio HC;
  3. Muito acima desses valores quando a compra é realizada via secretarias de saúde dos municípios.

Veja quanto pagaram secretarias de estados e prefeituras do país pelo aparelho:

  • Alagoas: R$ 102 mil
  • Manaus: R$ 324 mil e r$ 107 mil
  • Prefeitura de Sorocaba: R$ 91 mil
  • Secretaria Santos – R$83 mil
  • Campinas – R$93 mil
  • Paraiba – R$ 176 mil
  • PiauÍ – R$127 mil
  • Goiânia – R$ 129 mil

Cinco empresas forneceram os aparelhos implantados pelo hospital. Uma delas a Dabasons é citada na investigação e não retornou o contato do SP1.

Pacientes e funcionários foram ouvidos pela comissão interna do HC e pela polícia. Os investigadores suspeitam que o médico Erich tenha se aproveitado do estado de saúde dos pacientes para ganhar dinheiro. Sylvio Ribeiro de Souza Neto, juiz do Tribunal de Justiça de são Paulo, diz que ações judiciais desse tipo prejudicam toda a rede pública de saúde.

“Os efeitos mais perversos é de que passa-se a olhar apenas o caso individual e não o coletivo, desprezando uma estratégia de estado no combate de determinadas doenças e também não possibilitando ao estado um planejamento regular da compra de medicamentos, próteses, órteses, que representaria uma economia pro estado como um todo”, explica o juiz.

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