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‘Não vou aceitar qualquer coação’, afirma Sérgio Zveiter em entrevista

Deputado é o autor do relatório que pedia a continuidade de investigações contra Michel Temer

Autor do relatório derrotado na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, que pedia a continuidade das investigações contra o presidente Michel Temer, o deputado Sérgio Zveiter (PMDB-RJ) não está preocupado com as ameaças que vem sofrendo da direção partidária. Ele promete manter a mesma posição na quarta-feira, quando o plenário da Câmara analisará o relatório vencedor na CCJ, elaborado pelo deputado Paulo Abi-Ackel, que pede o arquivamento do processo.
 
“Neste momento, não estamos discutindo se o presidente Temer é culpado ou não. Esse é um julgamento que caberá ao Supremo Tribunal Federal. Mas barrar agora, na Câmara, a autorização para que o STF apure, é impedir que a sociedade conheça a verdade dos fatos”, defendeu o peemedebista.  Szveiter afirma que, ao ingressar no PMDB, buscava o partido de Ulysses. Confira trechos da entrevista ao Correio
Mesmo com as retaliações que deve sofrer do PMDB, o senhor manterá a mesma posição no plenário em relação à denúncia contra o presidente Michel Temer? Ele é, de fato, culpado das acusações de corrupção passiva?
Vou manter o meu voto, sim. Não podemos fechar os olhos diante das graves denúncias e dos fortes indícios apontados pela Procuradoria-Geral da República e simplesmente varrer tudo para debaixo do tapete. Neste momento, não estamos discutindo se o presidente Temer é culpado ou não. Esse é um julgamento que caberá ao Supremo Tribunal Federal. Mas barrar agora, na Câmara, a autorização para que o STF apure, é impedir que a sociedade conheça a verdade dos fatos.
Alguma mágoa com o PMDB por ter retirado o senhor de todos os postos que ocupava nas comissões? Tem medo de ser expulso? Pensa em deixar o PMDB após esse episódio? Há sondagem de algum partido?
Ainda não fui comunicado pessoalmente pelo PMDB sobre quaisquer punições. Mas já deixei claro ao partido e aos colegas do Congresso que não me curvo diante de ameaças e não tenho medo de punições. Quando aceitei o convite pra ingressar no PMDB, eu buscava o partido de Ulysses Guimarães, defensor da democracia e das instituições. Nunca assumi ou assumiria qualquer compromisso de submeter minha consciência e minha trajetória como homem público aos comandos de quem quer que fosse, ainda mais contra os direitos da sociedade. Na Câmara, cada um de nós, deputados eleitos, temos de agir com a independência e a responsabilidade que nos foram dadas pelo voto popular. É por isso que não vou aceitar passivamente qualquer tentativa de punição, constrangimento ou coação à minha atividade parlamentar.
O que vai representar para a imagem da Câmara um possivel arquivamento do processo contra o presidente?
Embora eu vá respeitar qualquer que venha a ser o resultado, a forma pela qual o Governo vem atuando para vencer representa, para mim, o que há de pior na política brasileira. O jogo de pressões e a distribuição de cargos e emendas pode ter conseguido fabricar uma vitória artificial na CCJ, mas quem age assim só amplia o abismo entre a classe política e a sociedade. Talvez seja por isso que haja uma rejeição generalizada da população ao governo Michel Temer. Isso sem falar que os poderes deveriam ser autônomos e independentes.
Caso o governo consiga derrotar essa primeira denúncia, as demais perderão a força? Ou cada negociação será uma batalha para o Planalto?
As eventuais novas denúncias só poderão ser tratadas se forem, de fato, apresentadas. Mas cada uma vai ser, sim, uma batalha cada vez mais difícil para o Planalto. Haja visto o que tem sido feito, sem nenhum escrúpulo, para barrar a primeira.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, errou ao fatiar a denúncia? Um processo único poderia ter mais força para ser aprovado?
A legislação ampara a decisão tomada pela PGR de promover investigações distintas para a suposta prática de crimes distintos. O que me coube analisar foi a primeira denúncia, que, como demonstrei em meu relatório, reúne todos os pré-requisitos legais para ter seu prosseguimento autorizado pela Câmara, além dos graves e consistentes indícios que apontam para a prática de crimes. A coesão desta denúncia, inclusive quanto à possibilidade de junção, com as eventuais novas denúncias, só será conhecida quando, e se, a PGR as apresentar.
Como filiado ao PMDB fluminense, como enxerga a crise vivida pelo partido no Rio de Janeiro, com Eduardo Cunha e Sérgio Cabral presos, Jorge Picciani investigado e Eduardo Paes citado na Lava-Jato? Há uma chance de a legenda no estado se unir ao DEM em torno do nome de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para o governo estadual?
O Rio vive um momento especialmente dramático, porque sofre os efeitos da crise econômica ainda com mais vigor, por conta da importância do petróleo na economia fluminense. O problema atual é tão grave que, mesmo com as receitas do Estado com royalties e participações especiais pela exploração do petróleo tendo dobrado neste primeiro semestre, em comparação com o mesmo período do ano passado, não se chega nem perto de cobrir o rombo de R$ 21 bilhões. O cenário das eleições de 2018 no Rio ainda está em aberto, a exemplo do que acontece com a eleição federal. O momento é de dedicação para encontrar soluções para conter a crise e minimizar seus efeitos. Esse tem sido o foco da bancada fluminense, com participação intensa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
Como o senhor vê as afirmações de  procuradores da República de que o PMDB trabalha para enterrar a Lava-Jato?
As afirmações de procuradores da República de que o PMDB trabalha para restringir investigações da Lava-Jato devem ser respondidas pelos dirigentes do Partido. A bem da verdade, jamais fui abordado, nem vi discussões nas reuniões da bancada a esse respeito, tratando-se de tema que não fez parte da agenda de que participei neste mandato.
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