As chances de encontrar um doador de medula óssea compatível são bastante raras: em média, uma a cada 100 mil. A espera é longa e deixa famílias inteiras reféns do sofrimento das filas. À revelia da necessidade dos pacientes, a Fundação Hemocentro de Brasília só aceita novos candidatos à doação mediante agendamento com dia e hora marcados. A regra, em vigor desde a semana passada, segundo a instituição, é regulamentada pelo Instituto do Câncer (Inca). Mas o órgão desmentiu. “Não é necessário aviso-prévio”, informou. A medida desagradou a quem depende da doação para a recuperação de doenças relacionadas aos sistemas sanguíneo e imunológico. Na internet, a repercussão ganhou as redes sociais e um abaixo-assinado com centenas de nomes pede o fim do agendamento.
O transplante de medula óssea é indicado para pessoas com leucemia, linfomas, anemias graves, imunodeficiências e outras 70 doenças. Quando um paciente necessita de transplante e não tem um doador na família, é feita uma consulta ao Registro Brasileiro de Doadores de Medula Óssea (Redome). Se for encontrado um doador compatível, ele então será convidado a fazer exames complementares para realizar a doação.
O Hemocentro tem em sua lista mais de 28 mil nomes de candidatos para a doação. Este ano, 6.900 pessoas foram cadastradas até 21 de agosto. Mas os números estão abaixo da necessidade, e a burocracia dificulta o acesso de possíveis doadores. Após a mudança, o interessado em doar medula deve ligar para o 160 opção 2 e agendar a doação, de acordo com a disponibilidade de horário, dentro do período de funcionamento do Hemocentro, que é de segunda a sábado, das 7h às 18h.
A medida ganhou repercussão e o rebuliço deu origem a um documento a ser entregue ao Governo do Distrito Federal e ao Ministério Público do DF. “A solução não é dificultar o atendimento. Assim, o Estado está sendo omisso com milhares de pessoas que dependem da agilidade do atendimento para terem suas vidas salvas”, reclamou Katherine Ferreira, em uma rede social. No site do abaixo-assinado, a decisão gerou polêmica. Centenas de pessoas já assinaram o documento contra a norma. “Estão dificultando um ato que pode salvar uma vida. A chance de uma pessoa que não recebe o atendimento voltar outro dia é muito pequena. Isso é uma verdadeira irresponsabilidade”, ressaltou o internauta Caio Guimarães Oliveira.