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Eurodeputada leva cinzas do Pantanal ao Parlamento Europeu: “América do Sul está em chamas”

Anja Hazekamp, deputada holandesa, criticou decisão da Comissão Europeia de adiar o Regulamento sobre Produtos Livres de Desmatamento, que determina prazo para proibir a entrada de commodities de áreas desmatadas na Europa

Anja Hazekamp, deputada holandesa, durante uma sessão no Parlamento Europeu, carregando cinzas do Pantanal (Parlamento Europeu/Reprodução)

“A América do Sul está em chamas”. É assim que começou o discurso de Anja Hazekamp, deputada holandesa, durante uma sessão no Parlamento Europeu que debateu as queimadas na Amazônia, Pantanal e Cerrado.

A integrante do Partido pelos Animais levou cinzas dos incêndios florestais no Brasil até o púlpito em seu discurso, realizado na França, alertando sobre os perigos da exploração do meio ambiente e a destruição dos ecossistemas pelo benefício econômico.

A parlamentar criticou a atuação dos políticos europeus sobre o tema, apontando que a Europa é cúmplice da destruição de florestas e outros ecossistemas vulneráveis e essenciais. “A principal causa desses incêndios é o desmatamento contínuo. Florestas são devastadas para dar lugar a mais gado e mais ração”, explica.

Desmatamento zero: uma meta adiada
O motivo da discussão foi o adiamento do Regulamento sobre Produtos Livres de Desmatamento, lei que proíbe a entrada na União Europeia de commodities de áreas desmatadas. Anteriormente, o prazo era até 30 de dezembro de 2024, mas foi adiado para dezembro de 2025. O pedido foi encaminhado pela Comissão Europeia ao Parlamento e Conselho Europeus.

Hazekamp disse que a decisão é inaceitável e pediu à Comissão que pare de importar produtos que fomentam o desmatamento e incêndios florestais. “O adiamento da regulamentação claramente serve para consolidar o controverso acordo comercial com os países do Mercosul, um acordo que aumentará ainda mais a importação de carne bovina e ração e impulsionará o desmatamento”, declarou.

Em seu discurso, que durou por volta de dois minutos, a deputada afirmou que as cinzas pertencem ao Pantanal, que viu um aumento de 2.306% nas queimadas, de acordo com dados do MapBiomas.

“Com a queima desses ecossistemas únicos e ricos em carbono, não apenas plantas, animais e pessoas são afetados. Enormes quantidades de gases de efeito estufa são liberadas, acelerando ainda mais as mudanças climáticas”, conta Hazekamp. “Uma coalizão de 15.000 cientistas alertou esta semana para uma catástrofe climática irreversível. O mundo está entrando em uma fase crítica e imprevisível da crise climática.”

De acordo com informações do Estado de S. Paulo, as cinzas das queimadas derivam da Terra Indígena Kadiwéu, localizada no Mato Grosso do Sul, maior TI fora da Amazônica e que teve 63% de sua área queimada. Ao todo, mais de 350 mil hectares de Terras Indígenas no Pantanal foram impactados pelo fogo, o que corresponde a 16% do bioma. A informação é do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

A Amazônia também viu de perto os efeitos dos incêndios florestais neste ano: só em 2024, 11,3 milhões de hectares foram queimados, sendo o bioma mais atingido (51% dos focos), segundo o MapBiomas.

Regulamento adiado
Vice-presidente da Comissão Europeia, o grego Margaritis Schinas também discursou sobre o impacto da destruição dos biomas brasileiros na sustentabilidade global – e o papel que a União Europeia tem ao reduzir e evitar os efeitos climáticos e ambientais.

“A perda de áreas florestais é uma preocupação para todos nós. Segundo dados científicos recentes, entre 10% e 20% do desmatamento e da degradação florestal global é induzido pela União Europeia por meio do consumo de commodities como gado, soja, madeira, óleo de palma, borracha, café e cacau”, explica.

Sobre o adiamento do prazo para cumprir o Regulamento sobre Produtos Livres de Desmatamento, Schinas disse que a extensão não comprometerá os objetivos da lei, mas foi criada para garantir que mais países e empresas possam se preparar para a implementação do texto regulatório. “Acredito que esta é uma boa oportunidade para todos nós refletirmos sobre nossas responsabilidades em relação ao desmatamento e, especificamente, aos incêndios florestais”, explica.

É a segunda ocorrência em menos de um mês que os incêndios florestais provocam reações na Europa. Os casos foram discutidos pela imprensa e por leitores nos jornais franceses Ouest France, France Info, Le Monde e Libération, que afirmou em manchete que a “Amazônia está sendo esfolada viva”.

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