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Cúpula das Américas começa com boicotes e reunião entre Biden e Bolsonaro

A cúpula permitirá que Biden se aproxime de líderes da América Latina, movimento crucial para os EUA em tempos de disputa com a China

Biden: presidente americano terá primeiro encontro com Bolsonaro (Getty Images/Al Drago/Bloomberg)

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, espera que a Cúpula das Américas estabeleça novas bases com a América Latina e o Caribe, mas a reunião começa nesta segunda-feira sobre areia movediça com boicote de alguns países. Enquanto isso, temas como a crise migratória nas Américas e a guerra na Ucrânia estão entre as principais pautas, além da primeira reunião de Biden com o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro.

A abertura acontece em Los Angeles, cidade simbólica para o evento por abrigar a maior comunidade hispânica dos Estados Unidos.

No nível diplomático, a cúpula, que terminará em 10 de junho, permitirá que Biden se encontre com líderes da região, algo que o presidente americano pouco fez desde que tomou posse em 2021.

A aproximação é importante para os EUA sobretudo em tempos de embate com a China, que superou os americanos como principal parceira comercial de vários países da América Latina (incluindo o Brasil).

O encontro de Biden com Bolsonaro é um dos momentos mais aguardados pela diplomacia brasileira, e está previsto inicialmente para quinta-feira, 9. Bolsonaro é visto dentro dos EUA como aliado do ex-presidente Donald Trump devido a declarações como acusação de fraude na eleição americana, além de troca de farpas sobre a gestão Biden.

Na reunião do G20 no ano passado, Biden e Bolsonaro já estiveram no mesmo evento, mas não tiveram um encontro bilateral.

Os dois presidentes discutirão questões da relação entre Brasil e EUA e temas globais, insegurança alimentar, resposta econômica à pandemia, saúde e aquecimento global, já que “todas as prioridades da cúpula são áreas nas quais o Brasil desempenha um papel incrivelmente importante”, listou Juan Gonzalez, colombiano que é diplomata sênior da Casa Branca e um dos responsáveis por assuntos latino-americanos.

O sucesso da cúpula, para Rebecca Bill Chavez, presidente da organização Diálogo Interamericano, dependerá se o encontro servirá “como uma plataforma de lançamento para um compromisso regional e focar em questões que encontrem eco” nos diferentes países.

Antes mesmo do começo do evento, sobretudo a lista de convidados dos EUA ao evento gerou polêmica. A falta de convite a Cuba ou os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, e da Nicarágua, Daniel Ortega, abriu a caixa de Pandora.

México, Bolívia, Guatemala, Honduras e o bloco caribenho de 14 nações colocaram em dúvida sua participação se forem excluídos os três países, que os Estados Unidos dizem violar a Carta Democrática Interamericana. A lista de convidados não havia sido confirmada até o fechamento desta reportagem, mas é dado como quase certo que o México não comparecerá.

Crise migratória

Biden está preocupado particularmente com a ausência do presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador nesta nona reunião dos países da região.

“Nossa relação com o México é e continuará sendo positiva” e o presidente disse querer “pessoalmente” que López Obrador compareça, disse esta semana Juan González, principal conselheiro da Casa Branca para as Américas.

Devido ao problema migratório, os Estados Unidos precisam de López Obrador e ele “vê que a posição de desafiar Biden o faz aparecer como um líder latino-americano”, comentou à AFP Michael Shifter, professor da Universidade de Georgetown.

“Todo o drama sobre quem vai participar e quem não vai e por quais razões mostra que há uma grande desconexão” e que os Estados Unidos “perdem influência especialmente na América do Sul, mas também no México”.

O presidente do Chile, Gabriel Boric, e o da Argentina, Alberto Fernández, se uniram ao chamado para estender os convites a todos, mas estarão presentes na reunião.

Mesmo assim, o chanceler argentino Santiago Cafiero reiterou neste sábado a necessidade de “uma reunião sem exclusões, um espaço de encontro onde seja possível discutir a partir das diversidades, mas também do respeito. Se existem divergências, que elas ocorram, mas com a presença de todos na mesma mesa”.

Juan González, por sua vez, considera que os Estados Unidos “têm sido muito respeitosos com as diferentes perspectivas” dos países.

A onda de migração para os EUA com a crise econômica nos países latinos pode afetar Biden nas eleições de meio de mandato em novembro, nas quais ele pode perder o controle do Congresso.

Washington espera chegar a um acordo sobre uma Declaração Migratória, para integrar os migrantes nos países de passagem, como México e América Central.

O desenvolvimento econômico é outra preocupação geral, mas exige o desembolso de recursos e resta saber o que os Estados Unidos podem propor.

“Não vejo o governo aparecendo com fortes compromissos financeiros”, mas sim “competindo em igualdade de condições e com pelo menos um certo número de parceiros” como Costa Rica, Panamá, República Dominicana, Canadá, Chile, Uruguai e Colômbia, aponta Manuel Orozco, diretor do Programa de Migração, Remessas e Desenvolvimento do Diálogo Interamericano, em uma reunião virtual com a imprensa.

Benjamin Gedan, do Programa Latino-americano do centro de estudos Woodrow Wilson, estima que “o barômetro real para esta cúpula será se os Estados Unidos oferecem acesso significativo a novos mercados, empréstimos e assistência externa para apoiar a recuperação”.

(Com informações da AFP)

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