Desistência do ex-governador em disputar a Presidência facilita o fechamento de alianças com tucanos, antes que deem apoio formal a Simone Tebet ou sejam cooptados por Jair Bolsonaro. O ex-pré-candidato, aliás, é um dos interlocutores
O Correio apurou que um dos principais diálogos dos petistas tem sido com o próprio Doria. Depois da reunião do conselho da chapa de Lula e Geraldo Alckmin, a presidente nacional do partido e deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) afirmou que o nome do ex-pré-candidato tucano não está vetado. Disse, ainda, não ser contra “ninguém que se coloque nesse campo democrático”.
A aproximação entre petistas e tucanos está sendo feita aos poucos e com cuidado para não queimar etapas. O primeiro a dar sinal de que os dois partidos podem entrar em um entendimento partiu do ex-senador e ex-chanceler Aloizio Nunes Ferreira, que declarou publicamente voto em Lula. Além disso, Alckmin é considerado um nome importante na estratégia de promover maior interação com os tucanos. Além disso, o próprio Doria disse que o ex-presidente “não é Bolsonaro, é inteligente e tem passado”.
Mas há resistências dentro do PT à essa aproximação com os tucanos e, sobretudo, com o ex-governador de São Paulo. Há um grupo que, pragmaticamente, defende o diálogo por considerar que não se pode prescindir de chamar o PSDB para perto, sobretudo pela história do partido pela consolidação da democracia. Só que existem outros petistas que não querem nem pensar nessa possibilidade.
Publicamente, o secretário nacional de Comunicação do PT, Jilmar Tatto, defendeu a conversa com Doria. Afinal, o ex-governador tem influência sobre vários diretórios e foi com o apoio deles que venceu as prévias em novembro passado.
Já o ex-prefeito da capital paulista Fernando Haddad resiste à aproximação com o ex-governador, pois não esquece as hostilizações promovidas contra ele e Lula. Porém, de acordo com fontes da campanha, ele não se furtaria de conversar com outros nomes do PSDB.
Isso, aliás, é um consenso de uma ala do PT — que o diálogo seja feito com tucanos históricos. Parte desse convencimento está a cargo de Alckmin, que trabalha nos bastidores para aproximar os antigos correligionários. A interlocução seria feita com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Aloysio Nunes Ferreira e os ex-governadores Teotônio Vilela Filho (AL) e Marconi Perillo (GO).
Entraves
Mas se há setores do PT que resistem às conversas com Doria e acenos aos tucanos, também há grupos do PSDB que não querem conversa com os petistas. Diretórios de estados das regiões Sul e Centro-Oeste torcem o nariz à menção de Lula em qualquer conversa.
Por causa disso, a campanha do ex-presidente colocou as duas regiões no radar. Na próxima quarta, quinta e sexta-feira, Rio Grande do Sul e Santa Catarina receberão a caravana de Lula para dar início à costura de alianças — nos mesmos moldes do que foi feito em Minas Gerais, cujo resultado foi o acordo com o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD). A ideia nessa passagem pelos dois estados é tentar concretizar composições com os tucanos — que tendem a correr para os braços de Bolsonaro.
Um dos argumentos a serem usados para atrair os setores do PSDB governistas é a recente pesquisa do Datafolha, que coloca Lula com possibilidade de vitória no primeiro turno. De acordo com o resultado divulgado na última quinta-feira, o petista teria 48% das intenções de voto contra 27% do presidente da República. Ou seja, a hora de garantir assento no projeto de um próximo governo sob comando do petista e de Alckmin é agora.
O ex-governador do Piauí e um dos coordenadores da campanha de Lula, Wellington Dias (PT) trabalha com a possibilidade de vitória do ex-presidente em 21 dos 27 entes da Federação. “E isto está permitindo organizar bem além dos partidos da coligação nacional e permitirá maioria necessária para a Câmara e cerca de 20 das 27 vagas do Senado com líderes que fazem campanha com Lula e Alckmin”, afirmou.