18.5 C
Brasília
HomeÉ DestaqueCongresso deve debater limites de perdão presidencial após caso Silveira

Congresso deve debater limites de perdão presidencial após caso Silveira

Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco afirmou que “por certo haverá iniciativas nesse sentido” e disse que é necessário “estabelecer melhores critérios” para o uso desse instituto
(Agência Câmara/Maryanna Oliveira)

O perdão concedido pelo presidente Jair Bolsonaro ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a oito anos e nove meses de prisão por ameaças e ataques à Corte, deve impulsionar no Congresso a tramitação de projetos que limitam o indulto individual (graça). O próprio presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou ao GLOBO, na sexta-feira, que “por certo haverá iniciativas nesse sentido”, pois é necessário “estabelecer melhores critérios para que o presidente use esse instituto”.

Uma nova regulamentação do perdão presidencial também é bem vista pela cúpula do Judiciário. Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) acreditam que derrubar o decreto que anulou a condenação de Silveira seria “cair em uma cilada” e abrir espaço para o discurso de interferência no Executivo. Para membros da Corte, o ato de Bolsonaro tem previsão constitucional, mas não pode ser desvirtuado para blindar aliados e afrontar o Judiciário. Por isso, seria importante, segundo eles, o Congresso estabelecer regras mais rígidas. A ideia é criar travas para evitar novas discórdias, sobretudo no período eleitoral.

Enquanto nos bastidores se costura meios para avançar nesta nova regulação, ao menos 19 projetos na Câmara e no Sena tratam do indulto presidencial. Segundo levantamento feito pelo GLOBO, cinco deles afetariam ou proibiriam o perdão concedido por Bolsonaro a Daniel Silveira, se já tivessem se tornado lei. Algumas dessas propostas, elaboradas no passado por apoiadores do presidente como os senadores Eduardo Girão (Podemos-CE) e Lasier Martins (Podemos-RS), estabelecem em suas justificativas que o objetivo era impedir que o indulto fosse usado para “beneficiar eventuais amigos e comparsas” do titular do Planalto.

Condenado a prisão e multa, além da perda do mandato e dos direitos políticos, Silveira é um aliado da família Bolsonaro e considerado pelo presidente como “candidato ideal” de seu grupo político ao Senado pelo Rio nas eleições de outubro. O presidente era um crítico do indulto e havia prometido acabar com a medida, usualmente emitida de forma coletiva no fim do ano.

Motivações

Sete dos 19 projetos que tratam do indulto presidencial no Congresso foram propostos entre 2017 e 2018, muitos deles simplesmente acabando com o instituto ou proibindo sua concessão em casos de corrupção ou crime contra a administração pública. Nesse período — e em certa medida, ainda em 2019 —, parlamentares estavam reagindo ao indulto de Natal concedido pelo ex-presidente Michel Temer em 2017, quando perdoou crimes de colarinho branco e beneficiou condenados pela Lava-Jato. O assunto também estava em voga pois o então candidato Jair Bolsonaro acusava o seu oponente nas eleições, Fernando Haddad (PT), de, se eleito, conceder um perdão ao ex-presidente Lula, que naquele momento estava preso.

Uma das Propostas de Emenda à Constituição (PEC) que poderia impedir o perdão a Silveira é do senador Eduardo Girão, apresentada em 2019, e que proíbe a concessão do indulto em caso de condenação por crimes contra a administração pública. Há uma discussão entre ministros do STF se a coação a agentes do Estado por parte do deputado bolsonarista se enquadraria nessa tipificação.

Uma outra PEC, do senador Lasier Martins, é ainda mais abrangente e veda o instituto para crimes contra a administração pública, contra o sistema financeiro nacional e lavagem de dinheiro. Entre as 31 assinaturas que recebeu, consta a de Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

Tanto Girão quanto Martins defendem, no entanto, o perdão de Bolsonaro a Silveira. O primeiro afirmou que o indulto garantiu a liberdade de expressão e a imunidade parlamentar do deputado. Já Martins disse que foi convencido de que o instrumento faz parte da prorrogativa do presidente.

Veja Também