Acusação aponta que parlamentar petista recebeu R$ 8,4 milhões em pagamentos da empreiteira, intermediados por Cunha
BRASÍLIA – A Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou o deputado federal Arlindo Chinaglia (PT-SP) e o ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ) sob acusação de corrupção passiva envolvendo pagamentos de propina da Odebrecht. A peça aponta que Chinaglia teria recebido R$ 8,4 milhões da empreiteira em um acerto ilícito intermediado por Cunha em troca de favorecer a Odebrecht nas obras da hidrelétrica do rio Madeira.
Chinaglia era presidente da Câmara à época dos fatos, entre 2007 e 2009, e também exerceu posteriormente funções de liderança do PT na Casa. A PGR aponta que ele tinha influência na nomeação de diretores da estatal Furnas, que cuidou dos leilões das obras do rio Madeira, por isso teria recebido vantagens indevidas da empreiteira.
“Foi nesse contexto e em razão de sua importância política que o grupo Odebrecht realizou pagamentos ao Deputado Federal Arlindo Chinaglia de vantagem indevida, conforme provado nesta investigação e dos fatos que são objeto da presente denúncia”, diz a denúncia. Chinaglia também foi acusado do crime de lavagem de dinheiro.
Com base no relatório da Polícia Federal do caso, a PGR narra 36 entregas de dinheiro vivo em São Paulo para intermediário do parlamentar petista. O material tem como base o conjunto probatório envolvendo as empresas transportadoras de dinheiro para a Odebrecht e o sistema interno de pagamento de propina da empreiteira, o Drousys.
Segundo o depoimento do ex-diretor da Odebrecht Henrique Valladares, o acerto da propina foi feito em uma reunião no escritório de Eduardo Cunha no Rio de Janeiro. De acordo com o ex-diretor, Cunha solicitou R$ 20 milhões para seu grupo político e R$ 10 milhões para Chinaglia, devido à sua posição de destaque na qual o parlamentar petista poderia apoiar a Odebrecht nos seus interesses no rio Madeira.
Os demais denunciados são os empreiteiros da Odebrecht que assinaram delação premiada e os intermediários do recebimento da propina. Dos 17 denunciados, sete são colaboradores.
Caberá agora ao Supremo Tribunal Federal (STF) julgar o recebimento da denúncia, para decidir se torna Chinaglia réu pelos fatos narrados, ou se recusa a peça de acusação. Não há prazo para que isso ocorra.
A defesa de Chinaglia ainda não foi localizada. Os advogados de Eduardo Cunha, Ticiano Figueiredo e Pedro Ivo Velloso, afirmaram em nota:
“É no mínimo absurdo, totalmente inverossímil, que se acuse Eduardo Cunha de solicitar vantagem em benefício de adversário político, contra quem inclusive disputou a eleição para a Presidência da Câmara. A denúncia, baseada em delatores e planilhas oferecidas por estes, não narra absolutamente nada sobre o ex-deputado, tratando apenas de Arlindo Chinaglia -um de seus priincipais oponentes e em nome de quem jamais atuaria. As dúvidas serão devidamente esclareciads no curso da investigação para correção deste lamentável equívoco”.