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Fim do auxílio e desemprego devem segurar retomada econômica

Indicador que é considerado uma prévia do Produto Interno Bruto tem sexto mês consecutivo de alta em outubro, mas mostra desaceleração. Fim do auxílio emergencial e desemprego elevado devem segurar retomada nos próximos meses, dizem especialistas

(crédito: RaphaelRibeiro/BCB).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Apesar de continuar se recuperando do baque provocado pelo novo coronavírus, a atividade econômica brasileira já começa a dar sinais de desaceleração. O Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) do Banco Central (BC) mostra que o país registrou o sexto mês consecutivo de crescimento em outubro, mas a expansão, de 0,86%, ficou abaixo dos resultados anteriores.

Considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB), o IBC-Br de outubro veio abaixo das expectativas do mercado, que projetava alta de 1,1%. E mostra uma desaceleração do ritmo de recuperação econômica, pois também ficou aquém das taxas de crescimento registradas até então. Após cair 9,46% em abril, o IBC-Br avançou 2,15% em maio, 5,23% em junho, 2,42% em julho, 1,62% em agosto e 1,68% em setembro, na série com ajuste sazonal.

Para analistas, o dado divulgado ontem pelo BC mostra que o Brasil não tem uma recuperação em V, como tem dito o ministro da Economia, Paulo Guedes. “A atividade econômica teve um impulso forte em junho, mas vem perdendo força mês a mês. O dado mostra que a recuperação tem acontecido a passos bem graduais”, comentou a economista da XP Investimentos Lisandra Barbero.

O economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, prefere chamar esse movimento de “recuperação em raiz quadrada”. E diz que a desaceleração “é explicada em parte pela abrupta elevação dos meses anteriores, que estatisticamente cria este efeito, mas também pela falta de dinamismo interno da economia, que parece muito dependente dos auxílios governamentais, agora em ‘fade out’”.

O auxílio emergencial ajudou a impulsionar a recuperação do comércio e da indústria, mas, em setembro, foi reduzido de R$ 600 para R$ 300 e, agora, caminha para seus últimos pagamentos, o que pode segurar o ritmo desses setores daqui para a frente. Além disso, o setor de serviços, que representa cerca de 2/3 do PIB, tem apresentado uma recuperação mais lenta, pois depende da renda das pessoas, que continua pressionada pelo desemprego elevado, e do contato social, que voltou a retroceder em muitos locais do país, nas últimas semanas, por conta do aumento dos casos da covid-19.

Por conta disso, analistas dizem que as taxas de crescimento do país devem continuar desacelerando e já consideram um PIB mais próximo de 1,5% neste quarto trimestre, ou seja, bem abaixo do crescimento de 7,7% registrado no terceiro trimestre. E o IBC-Br confirma a tendência: o indicador cresceu 6,46% no trimestre móvel encerrado em outubro, ante 9,4% registrados no trimestre anterior.

O IBC-Br também mostra que a economia brasileira ainda acumula uma contração de 4,92% neste ano e de 3,93% nos últimos 12 meses. O resultado de outubro também é 2,61% menor que o registrado no mesmo mês do ano passado. Por isso, analistas do mercado financeiro apontaram, no Boletim Focus desta semana, que o PIB do Brasil deve sofrer um baque de 4,41% em 2020. A expectativa é ligeiramente pior que a da semana passada: 4,40%. E já há quem aposte em um PIB próximo de zero no primeiro trimestre do ano que vem.

Economista da Órama Investimentos, Alexandre Espírito Santo explicou que, no início do próximo ano, o país não deve contar com o auxílio emergencial e vai continuar com o desemprego elevado, o que reduz o consumo das famílias. E lembrou que as pautas que poderiam elevar a confiança do mercado e ajudar a atrair investimentos para o Brasil, como as reformas econômicas e a PEC Emergencial, só devem começar a andar depois da eleição dos próximos presidentes da Câmara e do Senado, em fevereiro.

“A recuperação não é tão rápida e forte quando diz o governo. Por isso, é preciso voltar às reformas e vacinar o quanto antes, para voltarmos a crescer”, defendeu. “Estamos voltando ao ritmo de recuperação que tínhamos antes da pandemia, mais moderado. Com isso, também voltamos a esbarrar nos problemas estruturais da economia, pois eles continuam lá. Por isso, é preciso atacar isso o quanto antes com as reformas”, reforçou o gerente de análise econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Marcelo Azevedo.

G20: países crescem, mas não recuperam perdas

O Produto Interno Bruto (PIB) do G20 — grupo das 19 maiores economias desenvolvidas e emergentes do planeta, mais a União Europeia (UE) — cresceu 8,1% no terceiro trimestre, após a queda sem precedentes na primeira metade do ano, devido às medidas fiscais para conter os efeitos da pandemia da covid-19. Contudo, o PIB do grupo permanece 2,4% abaixo do patamar pré-crise do último trimestre de 2019, conforme dados divulgados pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

O levantamento feito pela entidade multilateral, sediada em Paris, apontou que, entre as economias do G20, o PIB da Índia foi o que mais se recuperou, 21,9% no terceiro trimestre, após queda de 25,2% no trimestre anterior, a retração mais acentuada já registrada entre as economias do grupo.

A OCDE destacou que vários países apresentaram recuperação de dois dígitos no terceiro trimestre na comparação com o segundo trimestre, como França (18,7%, após uma contração de 13,8%); Itália (15,9%, após queda de 13,0 %); Turquia (15,6%, após -10,8%); Reino Unido (15,5%, após -19,8%); África do Sul (13,5%, após -16,6%); e México (12,1%, após -17,0 %).

Com crescimentos mais modestos aparecem Canadá (8,9%); Alemanha (8,5%); Brasil (7,7%); Estados Unidos (7,4%); Japão (5,3%); Austrália (3,3%); Indonésia (3,1%); China (2,7%); Coreia do Sul (2,1%) e Arábia Saudita (1,2%). Nesse grupo, apenas Canadá e Alemanha apresentaram crescimento acima da média do G20.

“O PIB na área do G20, como um todo, permaneceu significativamente abaixo dos níveis do mesmo trimestre do ano anterior (-2%), com apenas Turquia e China registrando crescimento positivo (de 5,4% e 4,9%, respectivamente)”, destacou o documento da OCDE. A entidade informou ainda que o Reino Unido é o que teve a maior queda, de 9,6%, na comparação anual.

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