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63 motociclistas morreram em acidentes no DF de janeiro a setembro

Mesmo com a queda nos índices de mortes no trânsito e de acidentes com vítimas nos primeiros nove meses do ano, número de motociclistas que perderam a vida nas vias do DF ultrapassou o total do ano passado, representando 40% dos óbitos

Em 16 de janeiro, um motociclista de 36 anos morreu na Ponte JK: 63 vítimas de janeiro a setembro
(foto: Minervino Junior/CB/D.A Press)

O número de motociclistas mortos em acidentes no Distrito Federal, de janeiro a setembro, subiu 40% em relação ao mesmo período do ano passado. Apesar de o total de mortes no trânsito e de acidentes com vítimas terem caído em comparação aos primeiros nove meses de 2018, os números preocupam. Apenas neste ano, em média, a cada 31 horas, uma pessoa morreu nas vias urbanas e rodovias do DF.

Dados do Departamento de Trânsito (Detran), obtidos com exclusividade pelo Correio, mostram que, de janeiro a setembro, 206 perderam a vida em 195 acidentes com morte; 63 deles eram motociclistas (veja Perigo no asfalto). Uma dessas vítimas é Joabe Fernandes da Silva, 36 anos, que não resistiu ao cair da Honda Bross que pilotava, enquanto passava pela Ponte JK em 16 de janeiro.
O Distrito Federal tem até dezembro de 2020 para vencer o desafio de diminuir as mortes no trânsito. A meta faz parte de um acordo firmado com a Organização das Nações Unidas (ONU) para reduzir pela metade o índice registrado no início da década, em 2011. Naquele ano, 465 pessoas morreram nas estradas do DF. Até o fim de 2020, esse número precisa cair para 232.
Motociclista e um dos fundadores do Sindicato dos Motociclistas Profissionais de Brasília (Sindmoto), Reivaldo Alves, 48, lamenta a perda de amigos por causa de acidentes com motos e considera que a fiscalização tem deixado a desejar. Para ele, o processo de obtenção de habilitação para pilotar não tem sido exigente. “Muitos acidentes acontecem porque as pessoas não estão preparadas para andar de moto. É preciso respeitar os limites de velocidade, as leis. É preciso ter curso, e o treinamento tem sido muito fácil e simples”, critica.
Reivaldo acredita que o boom do serviço de delivery por aplicativo contribuiu para a alta de acidentes nas vias da capital. “Eles (entregadores) não têm seguro de vida, carteira fichada e não são amparados em nada. Simplesmente, fazem o delivery e, quanto mais fazem, mais ganham”, analisa. Ele também cobra que motociclistas, de um modo geral, tenham mais cuidado. “Somos uma parte muito frágil do trânsito. E muitos não estão preocupados com a vida. É importante lembrar que a velocidade que emociona é a mesma que mata”, alerta.

Prevenção

Para o assessor e porta-voz do Detran, Glauber Peixoto, o índice de acidentes com motociclistas se deve a fatores variados. Além do aumento do número de trabalhadores de serviços de entrega por aplicativo, o uso do celular por motoristas preocupa. “Por terem de cumprir metas, muitos (motoboys) acabam adotando atitudes imprudentes. Mas o Detran tem conversado com essa categoria para que se regularizem, se profissionalizem e se capacitem”, comenta. “Os condutores (de carro de passeio) também precisam respeitar a presença das motos. Todos têm direitos e deveres, e o respeito deve ser mútuo”, acrescenta.
Os dados também chamam atenção para o mês de setembro, quando houve crescimento significativo das mortes no trânsito. A quantidade de vítimas aumentou 78,6%. Apenas no nono mês de 2019, 25 pessoas morreram em 21 acidentes — em 2018, foram 14. Em todo o ano passado, 278 pessoas não resistiram.
Glauber afirma que a autarquia intensificará as ações de prevenção, com foco em três eixos: educação, engenharia de tráfego e fiscalização. “(Até o fim de 2020), temos de manter a linha de queda. Esperamos chegar ao ano que vem com números inferiores aos deste ano. É algo em que precisamos trabalhar, não só o Detran, mas todos os órgãos de trânsito do DF. E todos estão preocupados em alcançar essa meta (firmada com a ONU)”, assegura Glauber.

Imprudência

A moradora da Granja do Torto Elisangela Oliveira da Silva, 31, é motociclista há nove anos. Ela confessa que não se sente segura ao trafegar pelas vias do DF; por isso, toma atitudes de segurança por si e pelos demais. “É muito perigoso tanto para quem está na moto quanto para quem está no carro. É um cenário triste. As pessoas poderiam ter um pouco mais de atenção”, avalia. Preocupada com as chuvas, ela troca os pneus e transita em velocidade inferior à máxima permitida. “Procuro sempre pilotar bem atenta, mantendo-me na faixa e velocidade corretas, respeitando a sinalização de trânsito, porque existe muita imprudência”, lamenta.
Professor do curso de engenharia da Universidade Católica de Brasília (UCB) e pesquisador na área de transportes, Edson Benício de Carvalho chama a atenção para práticas indevidas, como usar celular ao volante e conduzir em alta velocidade. Ao mesmo tempo, ele cobra fiscalização ostensiva por parte dos órgãos responsáveis. “Mesmo que o número de mortes esteja caindo, estamos longe de patamares aceitáveis. O brasileiro, de forma geral, dirige a uma velocidade alta. E essa é uma variável preponderante”, ressalta.
Edson Benício reforça que a fiscalização fixa, por meio de instrumentos como barreiras e radares, não é suficiente. “Em outros países, você enxerga agentes próximos às vias, principalmente em horários de pico. Com a melhora da questão da mobilidade, da fluidez e com a presença de agentes nas vias, você diminui os índices dos acidentes e faz com que os motoristas sejam mais prudentes”, analisa.

Pedestres atropelados

No domingo (3/11), dois pedestres morreram, na altura do Incra 8, em Brazlândia, quando um motorista tentava ultrapassar quatro carros na DF-180. Fabiana Ferreira Aquiles Izidoro, 44 anos, e João Damião da Luz, 28, caminhavam pelo acostamento da rodovia, na descida da Ponte do Rio Descoberto, quando foram atropelados. O motorista envolvido no acidente dirigia um Passat Variant vermelho. Sob ameaça de linchamento, fugiu do local do atropelamento. Três horas depois, ele se entregou na 24ª Delegacia de Polícia (Setor O), onde fez o teste do bafômetro, que denunciou a ingestão de álcool. O caso ficará sob investigação na 18ª DP (Brazlândia).

 

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