Advogado de dois dos detidos exigiu que interrogatório só ocorresse quando ele chegasse a Brasília para acompanhar os clientes
A pedido da defesa, a Polícia Federal adiou os depoimentos de dois dos presos na operação que apura a invasão dos celulares do ministro da Justiça, Sérgio Moro, e do coordenador da Lava Jato, Deltan Dallagnol. Segundo o advogado Ariovaldo Moreira, que defende Gustavo Henrique Elias Santos e a mulher presa, identificada como Suellen Priscila de Oliveira, os dois só falarão quando ele estiver em Brasília.
Além de Santos e Suellen, detidos em São Paulo, a PF prendeu nesta terça-feira, 23, Walter Delgatti Neto, em Araraquara. Há ainda um quarto preso, em Ribeirão Preto, que não foi identificado.
Os quatro suspeitos de hackear os celulares de autoridades foram transferidos para Brasília e levados para a Superintendência da PF do Distrito Federal. A ação, batizada de Operação Spoofing, foi determinada pelo juiz da 10ª Vara Federal de Brasília, Vallisney de Souza Oliveira.
Os suspeitos chegaram por volta das 19h à capital federal e, segundo a PF, apenas dois permanecerão na carceragem da Superintendência por questão de espaço. Os demais foram levados por volta das 23h para local não informado.
Moreira disse à reportagem que a Polícia Federal está “impedindo sua atuação na defesa do cliente”. O advogado disse desconhecer o envolvimento de Santos com atividades de hackers. Segundo o defensor, ele trabalha como DJ. O suspeito já foi condenado em outro caso pelo Tribunal de Justiça de São Paulo por porte ilegal de arma.
Em e-mail encaminhado à PF na noite desta terça, ao qual a reportagem teve acesso, o advogado solicita informações acerca do cumprimento do mandado de prisão.
“Segundo consta, meu cliente Sr. Gustavo Henrique Elias Santos foi detido e encaminhado para esta unidade. Informo ainda que na qualidade de Advogado do Sr. Gustavo, não autorizo a oitiva do mesmo sem minha presença, ou que seja interrogado na presença de qualquer defensor público a ele nomeado”.
O advogado também disse que precisa de mais informações sobre o local onde ele se encontra detido, bem como o horário em que será interrogado. “Estão impedindo a atuação da defesa. Disseram para eu estar presente em uma hora para o interrogatório. Mas eu fui saber da prisão quando o meu cliente já estava em Brasília. Impossível eu estar lá em uma hora”, disse ele, que embarca para a capital federal nesta quarta-feira, 24.
Conforme o jornal O Estado de S. Paulo adiantou, os quatro presos em São Paulo foram transferidos para Brasília de avião e a expectativa era de que prestassem depoimento ainda nesta terça-feira na Superintendência da Polícia Federal do Distrito Federal. “Não acredito no envolvimento do meu cliente em nenhuma invasão de celular de ministro”, disse o defensor de Santos. Na casa do suspeito, a PF apreendeu seu celular e documentos.
Investigação
A investigação sobre a invasão de telefones de autoridades, entre elas o do ministro Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública) e do procurador da República Deltan Dallagnol, indica que centenas de celulares foram hackeados ou sofreram tentativas de hackeamento, em uma ação “muito além da Lava Jato”.
Quatro suspeitos de realizarem as invasões foram detidos nesta terça-feira, 23, pela Operação Spoofing da Polícia Federal – entre eles Walter Delgatti Neto, Gustavo Santos e Suellen Priscila de Oliveira. Os presos foram transferidos para Brasília.
Além dos mandados de prisão temporária, os agentes federais cumpriram ordens de busca e apreensão em São Paulo, Araraquara e Ribeirão Preto, cidades do interior paulista. A ação, que apreendeu ainda significativa quantidade de dinheiro em espécie, foi determinada pelo juiz da 10ª Vara Federal de Brasília, Vallisney de Souza Oliveira.
O inquérito sobre a ação de hackers é mantido em sigilo e está sendo conduzido pelo delegado Luiz Flávio Zampronha, que investigou o esquema do mensalão.
O mandado de buscas indica que desembargador federal Abel Gomes, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), no Rio, o juiz Flávio Lucas, da 18ª Vara Federal do Rio, e os delegados da PF Rafael Fernandes, em São Paulo, e Flávio Vieitez Reis, em Campinas (SP), também teriam sido alvo de hackers.
Em junho, o jornal O Estado de S. Paulo revelou que, além de Moro e Deltan, pelo menos outras oito autoridades que atuam ou atuaram em investigações ligadas à Operação Lava Jato em quatro Estados e um jornalista foram alvo de tentativas ou invasão por parte de hackers. Integrantes do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) também foram alvo de ataque.
Também nesta terça-feira, a PF informou que vai investigar a suspeita de invasão nos aparelhos celulares do ministro da Economia, Paulo Guedes, e da deputada Joice Hasselmann (PSL-SP).