Em um recente incidente, uma frota de veículos autônomos parou de circular e bloqueou o tráfego durante um show em uma noite de sexta-feira em North Beach
Pouco antes da cantora Patti Smith subir ao palco em São Francisco neste mês, o mestre de cerimônias agradeceu aos patrocinadores, incluindo a empresa de robotáxi Waymo. O público vaiou, refletindo a crescente hostilidade na cidade a uma das indústrias de tecnologia mais supervisionadas.
Em um recente incidente, uma frota de veículos autônomos parou de circular e bloqueou o tráfego durante um show em uma noite de sexta-feira em North Beach. Dias depois, um carro autônomo emperrou no cimento molhado de um canteiro de obras e um robotáxi colidiu com um caminhão de bombeiros que respondia a uma chamada de emergência. Semanas antes, defensores dos animais ficaram horrorizados quando um veículo atropelou e matou um cachorro pequeno.
Neste mês, a agência reguladora da Califórnia aprovou uma expansão dos serviços de robotáxi na cidade, permitindo que a Waymo, controlada pela Alphabet, e a Cruise, uma unidade da General Motors, comecem a cobrar tarifas pelas viagens quando as ruas estão mais movimentadas. Mas agora essas empresas também enfrentam sindicatos, o sistema de transporte público da cidade e o procurador municipal David Chiu, que solicitou ao estado a suspensão das licenças tarifárias ampliadas.
Se Chiu vencer, será um revés para companhias que tentam rentabilizar investimentos multibilionários em veículos autônomos. Poderia também sinalizar a outras empresas que desenvolvem a tecnologia que o berço da autonomia é um lugar cada vez mais difícil para seu crescimento.
Esse cenário coloca a Califórnia numa posição precária. Altos impostos e regulamentações já enviaram algumas empresas dos setores bancário e de tecnologia para o leste, em estados como o Texas. Empresas de tecnologia autônoma também se diversificam, com a expansão das operações da Cruise e Waymo e testes de frotas em estados do chamado “Sunbelt”, com regulamentações mais permissivas e governos favoráveis aos negócios. Na terça-feira, a Cruise anunciou planos de entrar em Raleigh, na Carolina do Norte.
“O que não está ficando mais difícil na Califórnia?” disse Christopher West, fundador da L5AutoUSA, que promove veículos autônomos. “Isso está acelerando uma progressão natural para outras cidades e estados.”
Cruise e Waymo são as únicas empresas na Califórnia autorizadas a operar serviços pagos de robotáxi 24 horas por dia. A aprovação foi concedida em 10 de agosto pela Comissão de Serviços Públicos da Califórnia, depois que a Cruise esperou nove anos para obter 10 licenças. Outros estados têm sido mais tolerantes. A Cruise conseguiu uma licença no Arizona em um mês, enquanto o Texas pode oferecê-la em alguns dias. Na Flórida, Geórgia e Carolina do Norte, a empresa disse que nem sequer precisa de licença para veículos autônomos.
À medida que os acidentes aumentam juntamente com o tamanho das frotas, carros autônomos criam polêmica em São Francisco.
A Waymo tem cerca de 250 veículos nas ruas da cidade, enquanto a Cruise tinha 400. Após uma série de incidentes recentes que circularam nas redes sociais, o Departamento de Veículos Motorizados da Califórnia ordenou que a Cruise reduzisse sua frota ativa pela metade – uma medida apoiada pelo sindicato Teamsters Union Local 250, que representa motoristas do setor público na Bay Area. A Cruise agora pode operar apenas 50 carros sem motorista durante o dia e 150 à noite.
Há grupos que veem benefícios nos carros autônomos, especialmente para pessoas com deficiência e para trabalhadores que necessitam de opções adicionais de transporte. O Sindicato Internacional dos Empregados de Serviços, a Federação Nacional dos Cegos e a Irmandade Internacional dos Trabalhadores dos Eletricistas Local 6 estão entre as organizações que apoiaram a expansão dos veículos autônomos.
“Há cidades em todo o país que acolherão com prazer a tecnologia e o que significa para a sua economia”, disse Grayson Brulte, consultor de assuntos governamentais. “Arizona, Flórida e Texas serão beneficiários da mesma forma que são beneficiários da migração financeira.”