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Sequestradora de bebê no Conic se compara a Gesianna, raptora no caso Hran

“Aquela menina do Plano também roubou uma criança e não foi tratada como eu estou sendo. É muita humilhação”, disse a sequestradora

Após as sete horas de horror vividas pela família de Arlete Bastos da Silva, 29 anos, o desabafo: “Foi muito emocionante ver que minha filha estava bem. Fiquei feliz demais. Graças a Deus foi um sofrimento ‘rápido'”, completou. Arlete teve a filha, Valentina, de apenas 3 meses, sequestrada na manhã dessa quinta-feira, no Conic, Asa Sul. A raptora foi presa em Planaltina de Goiás, cidade localizada a 60km do Plano Piloto, com a criança no colo. Faminta e assustada.
“O que vinha na cabeça era que ela ia matar Valentina”, desabafou Arlete, sobre o sentimento que teve durante todo o tempo em que a pequena esteve sob o poder da sequestradora. Cevilha Moreira dos Santos, 44 anos, chegou mesmo a pensar em matar a criança. Já no município goiano, pegou um táxi na intenção de fugir para Planaltina-DF. Percebeu a movimentanção da polícia e ameaçou o motorista dizendo que se ele parasse, retornasse ou fizesse uma manobra brusca, mataria o bebê. Mas ele parou e a mulher nada fez.
Dentro da delegacia, a sequestradora disse saber que o que havia feito não era certo. Porém, gritava, pedia ajuda e dizia que não era justo o que ela estava passando. Que ela não merecia estar ali. Cevilha prestou depoimento ainda na noite dessa quinta e seria transferida à Cadeia Municipal de Planaltina de Goiás.
Dentro da cela no Centro Integrado de Operações em Segurança Pública (Ciosp), Cevilha chegou a se comparar a Gesianna de Oliveira Alencar, 25 anos, a sequestradora do bebê Jhony Junior, no Hospital Regional da Asa Norte (Hran). “Aquela menina do Plano também roubou uma criança e não foi tratada como eu estou sendo. É muita humilhação”, disse a sequestradora.
Cevilha chegou a falar que teve um surto psicótico quando resolveu levar a criança. Que pensou em voltar e devolver o bebê. Mas que, durante a fuga, ouviu as pessoas comentando que um bebê havia sido sequestrados. Foi aí que, definitivamente, decidiu fugir.
O destino da criminosa é incerto. Um juiz decidirá se a manterá no cárcere. Ao Correio, ela negou integrar qualquer quadrilha. A princípio, será indiciada por sequestro qualificado e uso de documento falso. Cevilha é dona de uma extensa ficha criminal: foi presa por ameaça, lesão corporal e injúria, em 2017; apropriação indébita e tentativa de homicídio, em 2016; e por furto, em 2009.
Logo após a prisão da acusada, mulheres foram ao Ciosp na noite de ontem e disseram que Cevilha esteve na cidade, semana passada, procurando mães de bebês com até três meses. O chefe da unidade policial do munícipio do Entorno do DF, Cristiomário de Sousa Medeiros afirmou que vai investigar a possibilidade de Cevilha integrar uma quadrilha de roubo e venda de bebês.
“Eu errei, foi um momento de fraqueza. Estou doente, com depressão. Preciso de ajuda. Perdi meu bebê há cinco meses e o meu marido disse que, se eu não tivesse um filho, ia me largar”, disse Cevilha, aos prantos.
Luis Nova/Esp. CB/D.A Press

Reencontro

Policiais militares chegaram a Cevilha e a Valentina graças à denúncia de moradores da cidade goiana, que reconheceram a bebê por meio de fotos divulgadas pelas TVs e pelos sites de notícia do DF. Após o resgate, policiais levaram Valentina para o Hospital Municipal Materno-Infantil Santa Rita de Cássia, em Planaltina de Goiás mesmo, onde deu entrada às 17h20, com muita fome, a mesma roupa, mas sem ferimentos. Uma enfermeira a alimentou por meio de sonda. Policiais civis do DF viajaram com a mãe até a cidade do Entorno, onde seguiram direto para a unidade de saúde. Assim que chegou, Arlete pegou a filha no colo, lhe deu um beijo e começou a amamentá-la.

Falsa solidariedade

Parentes de Arlete contaram que ela conheceu Cevilha dias atrás, em um posto de saúde de Sobradinho. Na ocasião, Cevilha prometeu emprego à mulher, além de uma cesta básica e roupas para a bebê. “Ela chegou em casa contando que havia feito uma nova amiga que se dispôs a ajudá-la a conseguir uma vaga em uma empresa de serviço de limpeza”, relatou Arlan Bastos, o irmão gêmeo, ao Correio. Irmã de Arlete, Norlene Bastos, 37, viu Cevilha entrando na casa onde a família mora, no início da semana. “Ela ficou uns 10 minutos aqui em casa, depois saiu e retornou com uma sacola cheia de mantimentos para a Arlete”, contou.

Periferia

A família de Arlete é da Bahia. Oito dos nove irmãos moram no Distrito Federal. Na Vila Rabelo, periferia de Sobradinho, convivem 13 pessoas em um terreno de 360 metros quadrados, localizado em uma ladeira de terra batida. Algumas delas construíram duas casas de tijolo com telhado de amianto. Na dos fundos, Arlete mora com o marido, Valdir Rodrigues dos Santos, e os quatro filhos: Valentina, uma menina de 7 anos, um garoto de 8 e outro, de 12. Na residência da frente, moram três irmãos de Arlete, além de três crianças. Os outros quatro irmãos são vizinhos.

Dona da clínica Amigo Medicina do Trabalho, onde Arlete foi fazer o exame admissional, Ana Maria Esteves disse à reportagem ser permitida  a entrada das crianças com as mães. “As mães são sempre autorizadas a entrar com os filhos, até porque muitas vezes elas retornam à clínica após darem à luz. Elas podem entrar, inclusive, com crianças maiores”, garantiu.

Caso Hran

Vinte e três dias separam as duas histórias mais dramáticas deste ano, vividas no Distrito Federal. Na tarde de 6 de junho, Gesianna de Oliveira Alencar, 25 anos, entrou na maternidade do Hospital Regional da Asa Norte (Hran) e raptou o recém-nascido Jhonny Junior. Moradora da Estrutural e catadora de material reciclável, Sara Maria da Silva, 19, mãe do bebê participava de uma atividade organizada pela unidade de saúde.
Segundo as investigações, Gesianna já havia tido um aborto em 2015, aos três meses de gestação. Nos nove meses anterior ao crime, ela mentiu sobre a gravidez para a família, para o marido e chegou a usar uma barriga falsa. Gesianna entrou no Hran com o nome falso de Juliana, dizendo que visitaria um parente internado. Ela saiu com a criança dentro de uma bolsa. Policiais civis encontraram ela com o bebê, em casa, no Guará, na manhã seguinte.

A intenção dela era cuidar da criança como se fosse filho dela. Gesianna ganhou a liberdade em 14 de junho, após pagar R$ 5 mil de fiança. A juíza que cuidou do caso determinou a soltura da suspeita por conta da necessidade da submissão a exame psicológico/psiquiátrico.
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